Castelo Branco, 17H24
ENTARDECER
O anoitecer enverga lentamente as vestes
que um renque de velhas árvores lhe sustém;
tu olhas: e de ti separam-se as terras,
uma que sobe ao céu e outra que se despenha;
e deixa-te, a ti que a nenhuma pertences,
nem tão escuro como a casa silenciosa
nem tão seguro evocando a eternidade
como a que todas as noites se torna astro e ascende -
e deixam-te (indizível de desenredar)
a tua vida inquieta, imensa e amadurecendo,
para que, ora confinada, ora compreensiva,
em ti se torne ora pedra ora estrela.
Rainer Maria Rilke, O Livro das imagens, Relógio d'Água
(Trad. de M. João Costa Pereira)
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