Curiosa, muito curiosa, esta edição do i, a começar pela capa. Significa quarenta anos desta "democracia". A democracia não é um regime perfeito mas estas anomalias mostram a dificuldade da sua vivência. Por parecer uma entrevista genuína, demasiado sincera, mas, pena, extemporânea, e por aquilo que o princípio da realidade nos ajuda de alguma forma a compreender comportamentos e resultados deste funcionamento "democrático":
1. O funcionamento das organizações tem uma estratégia: o "silêncio". Só que esta é a forma de melhor entendermos a comunicação. O silêncio é o fundo de onde sobressai a palavra. De ouro. Quem foi o último a saber ? As pessoas são como um rebanho ?
Talkin' is cheap, people follow like sheep
Even though there is nowhere to go.
How could she tell? He deceived her so well.
Pity she'll be the last one to know.
...
Silence is golden,
But my eyes still see.
(Tremeloes)
As reuniões são um "pró-forma", os administradores não executivos são " verdadeiros verbos de encher" e os conselhos de administração alargados também...
Não é uma questão de dinheiro mas de poder... pois é, mas onde é que está o poder de uma instituição bancária se não é no dinheiro? E quando se vai o dinheiro vai-se o poder.
O financiamento dos partidos é, aqui, claro, quer dizer, o financiamento dos partidos é obscuro. E tudo é mais ou menos oculto conforme o poder e o poder do dinheiro.
Também se entende o comportamento desbragado de muita gente sobre o Presidente Cavaco Silva:
"Por uma questão social: não pertence ao eixo Lisboa-Cascais. É um homem da pequena burguesia urbana, típico pequeno-burguês urbano, que pela sua qualidade intelectual, pela sua formação académica e pela sua seriedade chegou a Presidente da República. Cavaco Silva não foi eleito pelo bloco social do PSD, foi eleito por muitos cidadãos que ora votam PS, ora votam PSD. O bloco social que constitui o núcleo duro sociológico do PSD detesta Cavaco Silva e, por isso, os meios de comunicação social também não gostam dele. É muito maltratado por uma questão social: porque é piroso, para usar um termo que diz tudo."
2. A justiça escuta o que quer e o que não quer deita fora. Sobre a promiscuidade do face oculta, merece referência o editorial de Luís Rosa: "O lado negativo passa necessariamente pelo homem que está na origem do nome do processo: José Sócrates O procurador João Marques Vidal e o inspector-chefe Teófilo Santiago foram impedidos de investigar o ex-primeiro ministro, o que (ironicamente) é um autêntico atentado contra o estado de direito. Ao promoverem e destruírem as escutas telefónicas que envolvem Sócrates, contra a vontade expressa dos investigadores e de forma duvidosa do ponto de vista legal, o ex-procurador-geral Pinto Monteiro e o conselheiro Noronha Nascimento escreveram um epitáfio: "Não deixou a justiça ir até ao fim". Será assim que a história os recordará"
3. O funcionamento interno dos partidos tem dado lições desta "democracia". A campanha eleitoral que decorre entre "amigos", está no grau zero do funcionamento do sistema mas isso pouco importa: os meios para conseguir que "o nosso homem" lá chegue são os que forem necessários...
Uma vez conseguido o poder tudo ficará em silêncio por mais alguns anos, pelo menos até que apareça de novo o "partido bom" e o "partido mau".
4. Por isso vale a pena continuar a insistir na reforma do sistema político, na redução do número de deputados, nas incompatibilidades entre o exercício legislativo e o exercício de profissões com implicações na legislação que os próprios elaboram, na existência, pelo menos, de uma legislatura de nojo entre cargos no governo e cargos de gestores de empresas...
Em suma, como diz a canção, "os meus olhos ainda vêem".
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