11/09/14

"O trauma é cumulativo"




Entrevista de Fábio Monteiro, Observador, a Judy Kuriansky, psicóloga clínica e professora na Universidade de Columbia.
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Diria que este trauma, o stress pós-traumático dos cidadãos norte-americanos ao 11 de Setembro, é hoje perpetuado com os vídeos da decapitação dos jornalistas pelos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante?
O trauma é algo cumulativo, nós [psicólogos] sabemos isto. O 11 de setembro foi uma experiência traumática gigantesca, mas desde que isso aconteceu já ocorreram muitos outros eventos dramáticos: em Espanha, em França, em Bali e em Inglaterra. Os veteranos do Vietname costumavam queixar-se que sofriam de stress pós-traumático, e nós dizíamos que compreendíamos. Agora é algo muito mais real, um país inteiro viveu a experiência do terror.
Os vídeos do ISIS são especialmente perigosos porque estão disseminados por todo o lado. Em particular para as crianças — até atingirem os oito anos, para eles, é tudo a preto e branco. Em Nova Iorque, é obrigatório falar sobre o 11 de setembro nas escolas, porque é mais perigoso deixar rumores propagarem-se e as crianças não terem noção do que se passou. Mas quem as protege ou explica o que são decapitações na televisão e internet?
Lembro-me que quando se começou a falar do HIV, muitos disseram para não cobrir esse tema para não criar medo na população. Estão loucos?, perguntei. Contem os factos e ofereçam formas de lidar com o medo, por que isto é a realidade.

A forma como este tipo de notícias se torna viral pode criar medo à população de um país?
Sem dúvida. Quando as pessoas vêm aquelas imagens, ficam com elas em repetição na cabeça. A imagem dos aviões a colidir nas torres não se esquece. No início, as televisões mostravam pessoas a saltar das torres em chamas. Depois, decidiram parar de divulgar essas imagens. Enquanto psicóloga posso afirmar, quer sejas adulto ou criança, aquelas imagens não são saudáveis para o cérebro humano.

Como sugeriria lidar com as imagens divulgadas pelo Estado Islâmico?
Os jornais não deviam mostrar as imagens pós-decapitação. Uma imagem tem sempre um efeito mais profundo psicologicamente do que ouvir falar que uma tragédia ocorreu.

Quem são as pessoas atraídas por este nível de violência – que se voluntariam para estas organizações extremistas?
Existem muitos artigos científicos sobre este tema. O que tudo indica é que pessoas que já estão predispostas para ser violentas, sentem-se encorajadas a ser violentas ao ver os vídeos. Pensam: se ele já fez isto, porque é que eu não faço? Outras pessoas ficam horrorizadas. E ainda há um terceiro grupo de pessoas: aqueles que ao assistirem à violência têm os próprios impulsos anulados.
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