14/03/13

Independência e autodomínio

                                
Ser pessoa implica passarmos pelo processo de nos tornarmos independentes e ao mesmo tempo termos capacidade de autodomínio.
Acontece que há um período da nossa vida em que se joga esta questão fundamental: aprendermos a ser independentes mas ao mesmo tempo sermos capazes de ter autodomínio.
Esta luta interna e com os nossos educadores acontece mais ou menos entre 1 ano e 3 anos de idade.
Muitos problemas que surgem nessa altura, ou no futuro, nascem nos acontecimentos críticos normais do desenvolvimento destes anos. 
Muitos problemas de comportamento que identificamos então ou mais tarde, na escolaridade, e que têm vindo a ser estudados são problemas em que as crianças não aprenderam a lidar com a sua independência e autodominio.
Estes problemas são de tal modo graves que as crianças são descritas como crianças tirânicas ou como pequenos ditadores...
Efectivamente algumas dessas crianças apresentam comportamentos tirânicos, isto é, comportamentos de opressão, crueldade e abuso de poder em relação aos outros, em especial aos pais e aos educadores, no jardim de infância e na escola.
Já presenciámos ou ouvimos descrições de comportamentos deste tipo em crianças destas idades: Vai para a cama quando quer, come o que quer e quando quer, quer que lhe comprem tudo, sabe dramatizar o quotidiano, sabe utilizar a raiva, os outros são mais objectos do que sujeitos, quer ficar em casa, quer sair à rua...
Elas dominam completamente o ambiente familiar desde manhã, quando se levantam, até ao deitar  e seguem todos os rituais de manipulação de que se lembram.


O que aconteceu entre um ano e três anos para se chegar aqui ? Com alguma frequência pais e mães chegam à consulta desesperados e não sabem o que hão-de fazer com os filhos, já tentaram de tudo e não conseguem lidar mais com eles. E estão dispostos a abdicar da educação deles, às vezes ainda muito pequenos: " vou mandá-lo para um colégio", seja lá o que isso signifique na cabeça dos pais... 
O dia a dia da família torna-se insuportável quando vivemos com crianças assim. 
Há, de facto, crianças que têm dificuldade em lidar com a sua independência e dificuldade em adquirir independência sem perda da autoestima e com controle das frustrações.
Mas há alguma coisa que se possa fazer ?
Há sempre formas mais adequadas de educar e formas erradas. As formas erradas são a permissividade excessiva e o autoritarismo. Uma não é alternativa ao outro porque são as duas erradas. 
A forma mais adequada é a que tem em conta as etapas de desenvolvimento da criança. As birras, p.ex.,  fazem parte do processo de desenvolvimento, assim como  a aprendizagem da frustração, a compreensão de que há situações que não pode fazer para sua segurança, há medos que não existem de verdade, a  locomoção é cada vez mais segura  e fonte e segurança...
Muitas dos comportamentos desta idade fazem parte destas aprendizagens e não que isso acontece por serem boazinhas ou mazinhas.Têm capacidade de imitação extraordinária. Cada criança pode imitar sequências inteiras de um determinado comportamento do pai ou da mãe.
E é assim que vai ganhando autonomia e aprendendo os comportamentos ajustados.  A criança está a  aprender a ser independente,  a aprender a importância dos  limites, aprender a brincar, aprender com os desejos e a fantasia, aprender a identificação com os pais. (Brazelton)
"Como é compensador quando os filhos têm condições para gostarem dos pais como de pessoas separadas - não como uma extensão de si próprios!" (Brazelton)


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