09/03/13

Culto da personalidade

Não deixa de ser invulgar e inesperado o que escreve Álvaro Cunhal (O partido com paredes de vidro,1985, pag.132 a 136) sobre o culto da personalidade.
"O culto da personalidade é um fenómeno negativo que comporta inevitavelmente pesadas
consequências no partido em que se verifique.
Os elogios públicos e o exagero dos méritos do dirigente objecto de culto são aspectos superficiais.
As questões de fundo são extrordinariamente mais graves.
São as incompreensões e a supervalorização do papel do indivíduo.
É a atribuição a uma personalidade, não apenas do que lhe é devido pelo seus méritos mas do
que se deve aos méritos de muitos outros militantes.
É o injusto apagamento da contribuição dos outros.militantes, assim como da classe e das massas.
É a prática da direcção individual e da sobreposição da opinião individual (mesmo que errada) do colectivo.
É a aceitação sistemática, cega, sem reflexão crítica, das opiniões e decisões do dirigente .
É a crença ou a imposição da sua infalibilidade.
É o atentismo em relação às decisões do «chefe» e a quebra da iniciativa, intervenção e
criatividade das organizações e militantes.
....
É o caminho quase inevitável para a intolerância, o dirigismo, a utilização de métodos administrativos e sanções em relação aos que discordem do dirigente objecto do culto, o contradigam ou se lhe oponham.
....
O culto da personalidade dos dirigentes é um fenómeno negativo na prática de um partido. Embora com alcance diferente, não deixa de ser negativo quando diz respeito a dirigentes mortos.
Se se é contra a deificação dos vivos, também se justifica ser contra a deificação dos mortos.
Mesmo em relação às mais notáveis figuras da história revolucionária, não são de alimentar ideias de infalibilidade.
Prestar homenagem aos mortos. Valorizar o seu papel. Aprender com os seus ensinamentos e o seu exemplo. Mas não incensar e não endeusar."

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