05/07/12

"Tratantes"

Entre os privilégios que ainda existem em Portugal – e que seria bom que acabassem, uma vez que o país, como bem manifestou ainda a última questão das ostras*, começa a odiar todo o privilégio - contam-se em primeira linha os privilégios que a chamada carreira política permite àqueles que a seguem.
Para servir tais privilégios, a opinião pública obteve meios de dividir uma coisa essencialmente indivisível e una –a probidade – em probidade política e probidade individual.
Uma vez admitida esta casuística um tanto imoral, o indivíduo considera-se irresponsável perante a sociedade por todas as ignomínias, por todas as baixezas, por todas as infâmias que comete na política. É vulgar dizer-se: “Velhaquíssimo em política, mas de resto um perfeito cavalheiro!”
Ora nós não queremos defender o privilégio para a engorda da ostra. Notamos só que a política assim considerada fica sendo igualmente - uma ostreira de tratantes.


Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão (Coord. M. Filomena Mónica), As Farpas, Principia, pags. 157 e 158.

*Refere-se ao marquês de Nisa que teve o monopólio da cultura das ostras, em viveiro, ao longo de parte da costa portuguesa.


Só mudaram as ostras...

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