Confrontamo-nos por esta altura do ano com assuntos problemáticos resultantes das avaliações que, parece-me, deviam ser debatidos abertamente e com argumentos que tenham alguma consistência com a realidade.
É
o caso das retenções, eufemismo para chumbo ou reprovação dos alunos.
Quando
falamos em chumbar ou não chumbar um aluno muita coisa está em jogo na sua vida.
O seu futuro pode depender muito dessa decisão. Há sempre sofrimento. E nem todos estão
preparados para ultrapassar facilmente as consequências. Nem todos os pais
pensam da mesma maneira, mas acredito que um
chumbo é sempre um drama pessoal que marca toda a vida da família.
E
isto é mais grave quando os alunos chumbam vários anos, seguidos ou não.
Em 2008, o Conselho Nacional de Educação (CNE) elaborou um parecer sobre o assunto que tinha e tem toda a pertinência:
Em muitos países, as repetições têm um carácter residual ou só existem em final de ciclo. O problema das repetições assume, em Portugal, proporções catastróficas para os alunos e para o sistema. A repetição não é um meio pedagógico adequado, porque os alunos vão encontrar dificuldades acrescidas quando sujeitos a um mesmo programa, numa turma em que têm de fazer novos esforços de integração e para onde transportam o estigma do “chumbo”. A repetição não é, também, na maioria dos casos, um instrumento de justiça como muitas vezes se afirma. Confrontados com sistemáticas avaliações negativas e sem capacidade para estudar e ultrapassar os problemas, alguns alunos não estudam porque não são capazes de o fazer, muitas vezes porque não compreendem sequer o que lhes é ensinado. Vários estudos mostram que a repetição, sobretudo a precoce, fragiliza os percursos escolares e é gravemente penalizadora para a criança. A ideia muitas vezes ouvida de que “repetir nunca fez mal” não tem qualquer fundamento, sobretudo numa escolaridade básica. A transição de ano sem que os alunos adquiram as competências necessárias… não é de modo algum a solução, mas a repetição, atirando a responsabilidade da não aprendizagem para o aluno e sua família, também não o é.
O
parecer do CNE ajusta-se à realidade das repetições nas nossas escolas. O
que não se percebe é que continue tudo mais ou menos na mesma desde 2008.
A
minha experiência já me ensinou que não é, de facto, inócuo ficar retido. Há
consequências negativas a nivel da auto-avaliação, da auto-imagem e da motivação dos alunos que
ficam retidos.
De
uma maneira geral, os alunos não melhoram as aprendizagens nos anos seguintes. Se
isso acontece, trata-se apenas de casos excepcionais.
Um
aluno que faz uma retenção tem tendência a fazer novas retenções ao longo do
percurso escolar.
O
caminho do insucesso é por aí. Segue-se a desmotivação pela escola e às vezes o
abandono.
Então,
para que serve chumbar ? Isso não é facilitismo ?
Na
Austrália, Canadá, Finlândia, Japão, Reino Unido, e Irlanda não há chumbos e estes
sistemas educativos apresentam melhores resultados do que o nosso.
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