07/06/12

"A problemática colocação de um mastro"

"Nós estamos a sofrer, presentemente, de uma idolatria de gigantismo quase universal" (Schumacher, Small is beautifull, pag.59). É esta doença que leva à criação de mega agrupamentos. A ideia de organizações em larga escala confronta-se com a ideia de respostas de qualidade, personalizadas e humanas.
Mas, infelizmente, em nome de um qualquer indefinido progresso, as organizações em larga escala parece que levam a dianteira nas políticas sociais.
Foi assim que, primeiro, acabaram com os postos de correio e com as escolas nas aldeias pequenas. Como isso ainda não era suficiente, logo a seguir, acabaram com as escolas nas aldeias maiores.
Depois construíram grandes parques escolares e fizeram grandes agrupamentos de escolas para juntarem os alunos, às vezes de um concelho inteiro.
Como isso ainda não chega, agora querem construir mega agrupamentos e até giga agrupamentos. ..
A segurança de proximidade também não tem muita importância e foram-se aos postos da gnr. A saúde também fica mais barata longe de casa e acabaram com centros de saúde e com maternidades.
E claro, não sei se é para rir porque algumas câmaras municipais foram coniventes com esta política, agora querem acabar com os tribunais nos concelhos pequenos.
As escolas nas aldeias acabaram em nome do que "eles" dizem que é o progresso e daquilo que "eles" entendem por socialização e sucesso escolar, nunca demonstrados.
Obviamente que não precisam de acabar com as aldeias porque elas acabarão por si quando morrerem os últimos velhos.
A política das organizações em grande escala marcou o governo anterior. E pelos vistos teve sequência no actual governo.
"Eles" gostam de coisas grandiosas, como cantam os Deolinda: "O maior mastro do mundo é português".
Nada disto é novo. A organização em grande escala é a tendência das políticas dos últimos anos. Grande parte dos dossiers do governo anterior estavam inquinados por esta visão grandiosa dos megaprojectos: Milhões de computadores, estradas e mais estradas, concentração em hospitais e maternidades, empresas municipais por todo o lado, e tudo isto feito com ppp, projectos financeiros insustentáveis em que o estado, isto é, em que os nossos impostos eram sacrificados ou a dívida aumentada. E tudo com muita festa, encenação, comida e bebida.
Schumacher propõe uma dimensão humana das organizações porque funcionam melhor, são mais ajustadas às necessidades das pessoas e dão mais liberdade e criatividade às pessoas.
É por isso que há necessidade de entender o desenvolvimento numa outra direcção "que conduza o homem às verdadeiras necessidades do homem, que o mesmo é dizer: às verdadeiras dimensões do homem. O homem é pequeno e por conseguinte o que é pequeno tem beleza. Caminhar para o gigantismo é caminhar para a autodestruição. E qual será o custo de uma reorientação ? Devemos lembrar-nos de que calcular os custos da sobrevivência é uma coisa perversa. Sem dúvida que algum preço terá de ser pago por alguma coisa que valha a pena: reorientar a tecnologia de forma a que ela sirva o homem, em vez de servir para o destruir, requer, antes de mais nada, um esforço de imaginação e abandono do medo." (pag. 133)
Nos políticos, actualmente no e com poder, não se encontrará uma voz discordante da política das organizações de grande escala ?

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