13/06/12

A educação de Churchill

Em tempo de revisão do estatuto do aluno, há quem defenda o regresso à força para disciplinar os alunos na escola.
É interessante verificarmos que de vez em quando este assunto vem à baila sempre que aparece um caso mais grave ou com maior destaque na comunicação social. Também, normalmente, envolve a educação em Inglaterra. Já Montessori falava nisso.
Ao ler a biografia de Winston Churchill * notamos que a sua educação foi um falhanço como aluno e tinha sentimentos terríveis sobre a sua meninice e adolescência.
Relata os anos penosos e de infelicidade das escolas agressivas, repressivas e penalizadoras por onde passou. Os anos de escola são uma “mancha cinzenta e turva” na sua vida, dizia.
Churchill foi um péssimo aluno, chumbou vários anos e hoje seria considerado um aluno problemático e, talvez, com perturbação do comportamento.
Churchill resistiu à subjugação a que as escolas sujeitavam os alunos naquela altura, resistiu à violência do sistema disciplinar das escolas inglesas.
Com sete anos, ingressou no primeiro internato, a escola preparatória, e com 13 anos no segundo, a public school. Ambas as escolas eram verdadeiros infernos de sovas e paraísos de camaradagem; e, em ambos os casos, o objetivo principal consistia em quebrar os pupilos e em os reconstruir de uma forma diferente. Quando os graduados destas famosas escolas inglesas saiam com 18 ou 19 anos para Oxford ou Cambridge, possuíam uma segunda personalidade: normalizada, não sem atrativos, mas artificial e semelhante às árvores podadas dos jardins barrocos franceses.

E Churchill prossegue nas suas memórias: A referência do diretor de turma a castigos verificar-se-ia demasiadas vezes. Sovas com uma vara de vidoeiro, à moda de Eton, estavam na ordem do dia na St James School. Mas estou convencido de que nenhum aluno de Eton, e certamente nenhum aluno de Harrow, recebeu alguma vez sovas tão grandes como as que o nosso diretor mandava dar aos rapazes que estavam à sua guarda. A severidade do tratamento superou tudo o que seria tolerado em casas de correção do Estado. As leituras de anos posteriores permitiram-me obter explicações sobre as possíveis causas de tamanha crueldade.»
O pequeno Churchill tinha então sete anos de idade. Ficou dois anos na St. James School. Não aprendia nada, pelo que levava repetidamente sovas terríveis. E continuava a não aprender. Esmagou o chapéu de palha do diretor com os pés (e podemos imaginar quais terão sido as consequências deste ato).
Sibilava e começou a gaguejar; os pais não se davam conta de nada quando vinha passar as férias a casa e mandavam-no novamente para o seu inferno -ao longo de dois anos. Por fim, adoeceu, ainda não tinha chegado aos nove anos de idade, e os pais, assustados, mandaram-no para uma escola diferente: em Brighton, por causa dos ares do mar.
A escola em Brighton era um pouco menos distinta e um pouco mais branda, mas do mesmo estilo. Fosse como fosse, o estrago estava feito. O jovem Churchill também não aprendeu nada em Brighton, nem mais tarde em Harrow, onde nem devia ter entrado, pois entregou nos exames de admissão folhas em branco para as disciplinas de Latim e Matemática. Porém, o diretor achou que não se podia recusar a admissão ao filho do célebre Lorde Randolph Churchill. Winston Churchill seria em Harrow um eterno repetente. Apenas se destacou em Inglês, a sua mente fIcaria «toldada» em relação a tudo o resto. Mesmo no desporto escolar era um falhado obstinado: detestava criquete e futebol da mesma forma que odiava o Latim e a Matemática. E também não faria aí quaisquer amigos. Ficou evidente que o coração de Winston Churchill se tinha endurecido em relação à escola, o ensino obrigatório e o seu estilo de educação. Tinha entrado numa greve interior, à qual se manteve apaticamente fiIel durante 12 anos ao todo. A escola dispendiosa foi mal empregue nele. Saiu da escola sem ter sido domado ou marcado por ela, sem qualquer educação ou formação... 
(pags 18-25)
Com este resultado na educação, todos os prognósticos de insucesso sobre Churchill iam sair errados. O falhanço na escola não significou o falhanço de uma vida.
A relação e a admiração com o seu pai viriam transformá-lo no grande estadista que conhecemos. Foi afinal um vencedor.

*  Haffner, S.(2011), Churchill, Expresso

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