A escola, como as outras instituições sociais, são lugares de violências. Devo, no entanto, clarificar: como dizia Freud, a educação é repressão, e, por isso, a criança vai passar por algumas dificuldades no acesso à civilização e à cultura que é veiculada pela sociedade e pela família mas, principalmente, pela escola.
Por outro lado, as mudanças sociais, económicas e culturais que se verificaram têm tido repercussão em tudo o que se passa na escola, principalmente no que se refere à autoridade.
No filme “os quatrocentos golpes” (François Truffaut, 1959), o protagonista tem treze anos. Na escola arranja problemas com os professores. Em casa, os pais são indiferentes ou ausentes e já não sabem o que fazer com ele. Falta à escola. Vive de mentiras. As instituições pouco podem fazer pela sua inadaptação.
Nos anos 50, a violência vinha da escola, da família e das instituições contra crianças e adolescentes. Já nessa altura não havia respostas fáceis para os problemas da vida. Hoje, as coisas são mais ou menos assim: continua a não haver respostas fáceis para os problemas da vida, incluindo, a violência na escola, ou um pouco além dos seus muros.
Com a diferença de que hoje, na maioria das vezes, a violência vem de alunos contra alunos e de alunos contra professores. A violência psicológica que não é fácil de definir existe todos os dias na sala de aula.
Hoje, chamamos bullying, a muita desta violência. O bullying, foi definido por Olweus (1991), afirmando que «um aluno está a ser provocado/vitimado quando ele ou ela está exposto, repetidamente e ao longo do tempo, a acções negativas da parte de uma ou mais pessoas ». Considera-se uma acção negativa quando alguém intencionalmente causa, ou tenta causar, danos ou mal-estar a outra pessoa. Esse repetido importunar pode ser físico, verbal , psicológico e/ou sexual. O bullying pode ser conduzido por um indivíduo – o provocador ou agressor – ou por um grupo, e o alvo do bullying pode também ser um indivíduo – a vítima – ou um grupo.
Há alunos que transformam a vida escolar num inferno. Há professores que são acusados de tudo. Ao professor não é permitido errar. O professor não pode ter um deslize. O professor fica imediatamente culpado quando o aluno faz queixa ou quando o encarregado de educação apresenta queixa superiormente.
Estamos nos antípodas d' “os quatrocentos golpes” no que se refere à autoridade do professor. Porém a violência hoje não é menos chocante.
Basta a queixa para ser considerado culpado. Bem se podem escrever relatórios. Bem se pode basear a actuação na legislação… o professor tem que provar que fez tudo certo. Tem que justificar todos os seus comportamentos. Tem que justificar porque é que é que não se esforçou para que o aluno não tivesse negativas. Porque não mudou os comportamentos do aluno.
Podíamos estudar, pelo menos, o que se passa para compreendermos como a nossa vida quotidiana pode ser tão violentada com estes casos em que vamos sendo envolvidos, de uma forma ou de outra, se não é hoje é amanhã.
Que fazer ? A autoridade da escola deve ser revista. Não uma autoridade como há 50 anos mas uma autoridade democrática onde tem que haver um líder que é o professor porque é ele que deve ter a autoridade informal mas também a autoridade formal que lhe é conferida pelo poder democrático do estado.
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