23/06/11

Salvos pelo QI

              Binet                                                                            Wechsler           

Não é exagero. Fui compreendendo, ao longo da minha vida profissional, que muitas situações na escola, são apenas resultado de “avaliações”  que mais não são do que  impressões dos adultos sobre os  alunos.
A crítica ao método dos testes é e deve ser feita. No entanto, considero que eles são uma ferramenta indispensável ao trabalho dos  psicólogos. Os testes são para o psicólogo o que  o estetoscópio é para o médico. E, quer as escalas de desenvolvimento quer as escalas cognitivas, têm uma função fundamental na ajuda que os professores e técnicos podem dar aos alunos.
Os testes e os testes de QI são instrumentos do passado e com uma longa história. Felizmente para eles. Porque não me parece que possamos ter outra forma de avaliar as capacidades cognitivas das pessoas, no meu caso das crianças e jovens, sem esses instrumentos de trabalho.
Os testes valem o que valem e são apenas um instrumento que nos ajudam na avaliação psicológica, isto é, é melhor avaliar desta forma do que através do chamado “olho clínico”.
No entanto, é interessante verificar que as pessoas aceitam, praticamente sem críticas, outras metodologias. Vou deixar de lado, neste momento, os falsos diagnósticos mais ou menos mistificados em que alguns ainda  acreditam.
Mas é, porventura, o que acontece, com o que designamos por QE ? Haverá alguma forma de avaliar o QE ? O próprio Goleman referia que ainda não.
Entretanto, ávidos de novidades, vamos criando expectativas sobre a avaliação das nossas emoções. E, que maravilha, toda a nossa personalidade concentrada numa fórmula...
Quanto aos testes cognitivos, se queremos ser rigorosos, muitos diagnósticos não os podem dispensar. Quando isso acontece, muitas crianças têm, certamente, outra orientação educativa, prejudicial, sem expectativas quanto ao futuro escolar e não só.
Felizmente, podemos “descobrir” através dos testes, as capacidades e as dificuldades da criança. Dito de outro modo, podemos descobrir os factores de risco e factores de protecção da criança.
Refiro alguns exemplos:
- Aluno do 4º ano. Vem apresentando, ao longo da escolaridade, dificuldades de aprendizagem da leitura e principalmente da escrita. Teve, este ano, o pior resultado dos alunos da turma nas provas aferidas.
Será que não estuda ? É "preguiçoso" ? O que se passa ?
Não sabemos. Vamos ver então o que nos dizem os testes. De facto, o problema não é cognitivo uma vez que a avaliação nos diz que manifesta inteligência de nível muito superior. Como se sabe algumas crianças que estão nesta situação podem apresentar, entre outros problemas, dificuldades de aprendizagem que não resultam de um défice cognitivo nem sequer da falta de estudo.
Trata-se então de uma criança com um perfil de sobredotação, a nível cognitivo,  que por esse motivo deve realizar aprendizagens de forma diferente dos outros alunos. Temos que procurar um currículo que tenha em conta esta situação para efectuar as aprendizagens da leitura e escrita mas também para que este aluno não se desmotive, não comece a desenvolver problemas de auto-estima ou de agressividade e sobretudo não contamine outras áreas de aprendizagem pelo facto de ter dificuldades a nível da leitura.
- Aluna do 2º ano, considerada (rotulada) deficiente mental, mesmo sem se ter feito qualquer avaliação cognitiva.
A aluna foi educada através de um currículo para crianças com défice cognitivo. Passou a sair da turma com frequência para realizar trabalho individualizado, onde, como tem dificuldade na iniciação à leitura se aborrece com os exercícios de repetição … até  ganhar aversão à leitura e às tarefas com ela relacionadas.
O que resulta do seu perfil cognitivo? Apresenta resultados cognitivos muito acima da média, isto é,  de nível superior.
É uma situação grave. Não temos o direito de fazer isto às crianças e às suas famílias.

Por isso, esta criança foi salva. Percebemos que ela necessitava de outros métodos de ensino-aprendizagem mas não daqueles que lhe tinham sido aplicados, por falta de diagnóstico correcto.

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