09/06/11

Mal-entendidos


Mal-entendidos é um "título ambíguo"  que (também) pode definir mais ou menos o que tem acontecido na educação.
Às vezes dá a impressão que não estamos interessados na mesma coisa que o ministério da educação ou na mesma coisa que os pais… promovendo uma espécie de luta continua em vez de uma  cooperação permanente entre uns e outros.
Veja-se o que se passa com a avaliação de desempenho docente, com o estatuto do aluno e a questão da (in)disciplina, a violência na escola e à volta dela…
Não quero dizer que não haja conflitos em assuntos complexos que resultam da própria complexidade do ser humano e da sua compreensão. Refiro-me apenas aos objectivos essenciais da educação em relação aos quais devíamos  estar de acordo.
Parece às vezes que as pessoas que mais mal fazem à educação são os ministros da educação... ou os professores.
Falamos frequentemente da interacção escola-família mas estamos longe de ultrapassar as desconfianças entre uma e outra.
O livro de reclamações virou queixa directa para o ministro. Cada queixa parece significar ter razão.
Quem tem que se justificar é a escola. Mesmo quando é difícil à escola fazer mais. A escola (os seus profissionais) não pode queixar-se de que não há recursos. Não pode queixar-se de que não há meios. Não pode queixar-se tout court.
Outro mal-entendido diz respeito às próprias intervenções pedagógicas. Questionam-se metodologias, formas de ensinar, comportamentos e atitudes do professor…
É, por isso, que “ Mal- entendidos” é um livro claro, justo, objectivo e honesto.
As dificuldades são apresentadas com clareza e honestidade. No estado actual dos nossos conhecimentos, há verdades que têm que ser ditas aos pais.
Sabemos que há processos psicológicos que são difíceis de elaborar. Há lutos complexos. O filho dos sonhos não é o mesmo da realidade. E esta é uma realidade dura de enfrentar.
Por isso, o caminho mais fácil é a culpabilização do sistema educativo, isto é, dos professores.
"Se o meu filho não aprende a culpa é do professor". Aí está um bode expiatório à mão de semear, quando, às vezes, o responsável é apenas a lotaria genética que faz com que tudo seja diferente em cada uma das crianças que ensinamos.
“Cada criança é uma história por contar” e os professores têm a grande responsabilidade na sua educação:
“Para compreender uma criança temos de voltar ao país das memórias, reviver o que ficou para trás, habitar de novo medos de que nos esquecemos. Olhar com olhos de espanto, chamar filha a uma boneca, e replicar o milagre da criação dando-lhe voz. Para a compreender temos de voltar a pele do avesso, reduzir a dimensão do corpo na medida inversa em que cresce o sentimento.”
As histórias em geral têm um fim feliz mas "para muitas crianças a sua história pode não terminar bem".

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