28/01/11

Homero, os ricos e a equitação

Ilustrações de Martins Barata

Tive alguma esperança de que pudéssemos mudar alguma coisa a sério na educação.
Começo a desesperar de que isso venha a acontecer .
Tomando a culpa dos problemas orçamentais, o estado não quer uma educação para ricos.
Rico, palavra maldita, como conservador, como globalização, como privado, liberal, americano… e, pelos vistos, também, piscinas, golfe e equitação.
O problema é saber o que abrange o conceito de rico.
A Odisseia, de Homero, na versão de João de Barros, começa de forma diferente: "Os gregos eram ricos e gostavam de ser ricos. Mais estimavam, porém, a beleza. E por isso Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, que era a mulher mais linda da Grécia, e cuja formosura deslumbrava o Mundo inteiro, resguardavam-na como tesouro sem par".

Será uma educação para ricos ter dois professores na disciplina de EVT, ter mais horas para educação musical e educação física, ter desporto escolar ?
Estas foram disciplinas que perderam horas ou vão perder um professor.
As críticas que se fizeram ao par pedagógico e às áreas curriculares não disciplinares, foram feitas no pressuposto de que se mantinham os dois professores em EVT e que as horas das áreas não disciplinares seriam devolvidas às disciplinas a que foram retiradas como EVT e  Música.
A crítica que se fez foi à falta de mais tempo para as artes e não menos.
Como se podem desenvolver trabalhos nas disciplinas como Educação Visual e Tecnológica com a manipulação de materiais e ferramentas que podem ser perigosas quando sabemos que há turmas que têm alunos com alguma instabilidade e com problemas de comportamento.
Só confunde público com gestão do estado quem quer. Como se não houvesse capitalismo de estado, como se a gestão do estado fosse limpa, como se as empresas públicas fossem de uma gestão perfeita, como se as empresas municipais fossem de mediana transparência… Como se mil milhões de euros de computadores Magalhães, apresentados com pompa e circunstância e servindo-se das crianças não fosse comportamento de um país de ricos. ..
Como se a utilização das crianças das escola para toda a espécie de mercantilismo que passa nas escolas não existisse, incluindo utilizar os alunos em campanhas de publicidade e de propaganda, a comporem o cenário, ou a fazerem peditórios de rua para algumas ONGS ou IPSS e tudo isto com a melhor das intenções.
Só um grande equívoco faz deslizar o discurso para a facilidade das palavras malditas.
Os equipamentos sociais são todos públicos. O que acontece é que uns são geridos pelo estado e outros são geridos por empresas ou particulares com diversas formulações jurídicas.
Concordo com Ramiro Marques: "O que está verdadeiramente em causa não é a redução da despesa pública, mas a vontade de controlar, punir e vigiar os projectos educativos que saem da alçada do Governo e que, ano após ano, mostram resultados que fazem inveja ao organismo estatal que dirige directamente a rede de escolas estatais: o Ministério da Educação."
"...  Na média da União Europeia, as escolas privadas representam 16% da Rede Pública de Educação. Por exemplo: Na Holanda, 70% das escolas públicas são de gestão privada, na Bélgica 55,9 da rede pública é composta por escolas privadas, em Espanha 30% são escolas privadas e na Suécia 30% das escolas públicas no ensino obrigatório já são escolas privadas - Fonte:  Education at a Glance 2010.
Em Portugal temos 93 escolas o que nem deve chegar a 1% da rede pública escolar."

Um dia, como Homero, havemos de poder dizer: os portugueses são ricos e gostam de ser ricos mas a beleza é a sua maior riqueza.  

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