14/05/09

Escola sem tempo inteiro

Por vezes a escola concretiza actividades que levam a sair da escola como acontece numa actividade do tipo jogo de pista, foto paper, etc. Pode ser uma manhã sem aulas mas uma manhã onde se fazem importantes aprendizagens. Uma actividade extracurricular que envolve para além dos alunos, a comunidade escolar, e se desenrola no espaço urbano.
Um contacto directo com a história e com a cultura da cidade é talvez mais importante do que ter ficado na escola. Fazem-se aprendizagens e revelam-se défices dos alunos do ponto de vista da interacção social e cultural.
Claro que estas actividades levantam muitos problemas pedagógicos e de organização.
Carl Honoré, escreveu um livro que ainda não tem tradução em português mas que podemos traduzir por “Sob pressão” [1]. Refere que durante gerações, crescer foi uma tarefa fácil: íamos à escola umas horas por dia, praticávamos desporto e tínhamos alguma ligação a um clube ou a uma instituição cultural ou religiosa, e o resto do tempo brincávamos ou sonhávamos acordados.
Não sou tão pessimista como Carl Honoré que diz que o nosso enfoque moderno da infância é um fracasso: os nossos filhos estão mais obesos, míopes, mais deprimidos e mais medicados do que qualquer geração anterior.
Mas é fácil concordar que " temos que desligar todos os aparelhos e dizer às criança que saiam para brincar”.
De facto as nossas associações desportivas e culturais deviam estar cheias de crianças e jovens a participarem em actividades próprias para a sua idade.
Não só para virem a ser grandes campeões, participantes nos jogos olímpicos e nem sequer para os desviarem dos caminhos errados …mas para terem um vida saudável e positiva e aprenderem a cultura do seu e dos outros povos.
“Sob pressão”, tem a ver com a cultura que criámos, uma cultura do perfeccionismo. Esperamos que tudo seja perfeito: os nossos clientes, os nossos corpos, as nossas férias, a nossa lua de mel, os nossos filhos…
Hoje estamos acelerando o desenvolvimento das nossas crianças: academicamente, expondo-as aos meios de comunicação adultos; vendo-as como consumidores; carregando-as com rotinas desnecessárias.
Mas, por outro lado, estamos a infantilizá-las superprotegendo-as e nunca lhes dizendo 'não'.
Para Honoré, a multitarefa é um mito. As crianças de hoje contam com uma grande quantidade de conhecimentos tecnológicos úteis mas não é verdade que o cérebro humano esteja preparado para esta multiplicidade de tarefas, numa sequência de diferentes actividades durante o dia.
A alternância das tarefas redunda num uso muito ineficiente do tempo e da energia do cérebro.
Ser mãe ou pai é uma viagem; é o descobrimento, por tentativa e erro, do tipo de pais que somos ou queremos ser. Não se trata de começar com uma ideia fixa do pai perfeito e fazer tudo o que esteja à altura desse ideal. Temos que ter tempo, espaço e liberdade para explorar o mundo com as crianças.
As duas tarefas mais difíceis da educação são saber ligar-se quando os filhos são pequenos e depois saber desligar-se quando precisam de trilhar os caminhos da autonomia.
Ao contrário do que alguns possam pensar nunca como hoje foi tão difícil ser criança, tão difícil educar uma criança e o melhor caminho educativo não é mantê-las sob pressão.

[1] Entrevista de Horacio Bilbao, de Clarin.com a Carl Honoré.

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