26/05/09

Preparar a reforma

Uma das consequências da gestão de recursos humanos da actual politica e em particular do Ministério da Educação foi ter atirado para a reforma muitos professores que ainda estavam capazes de poderem dar o seu contributo na educação da juventude deste país.
Um dos cartazes da manifestação dos 100 mil que vieram para a rua gritar que mais me chocou foi aquele que dizia: “não nos tratem como lixo”.
Precisamos de trabalhar com competência, de dormir, de não termos insónia, de não entrarmos em depressão, de sermos felizes, de termos bom humor, em casa, junto dos filhos e de irmos para a reforma descansados. Precisamos, se possível, que nos deixem morrer em paz.
Entretanto, muitos estão a abandonar ou estão, decididamente, a procurar a reforma de uma forma abrupta e uma mudança de vida de forma radical.
Mas será que esta mudança está a ser feita da melhor maneira?
Não deveria haver alguma forma de preparação para a reforma de modo a não mudar de uma forma radical de uma situação para outra?
Não será angelical, nestes tempos difíceis, sugerir esta coisa sofisticada de preparação para a reforma?
Quando nos reformamos não é a vida que se acaba mas, dizem, o início de uma nova vida, às vezes para melhor outras vezes para pior...
A preparação para a reforma deverá ter em conta que se deve pensar nesta mudança e na adaptação das pessoas a esta nova fase da vida. Assim, será possível, com tempo, encontrar novos caminhos, estudar alternativas e sonhar com essa nova vida.
A preparação para a reforma incide muitas vezes apenas no aspecto financeiro e preparar a reforma tem a ver com segurança financeira, económica e com seguros de saúde…
Mesmo a este nível, segundo um estudo da Fidelity Internacional, os portugueses e os franceses são os europeus mais atrasados na preparação da reforma. De acordo com os dados divulgados nesta análise, dos 57% portugueses inquiridos que ainda não começou a preparar a reforma, 31% conta ainda fazê-lo, enquanto 26% não pensa começar a tratar disso.[1]
Mas os aspectos psicológicos e sociais e, de uma maneira geral, os aspectos do desenvolvimento devem igualmente ser relevantes.
Como sabemos há aprendizagem e desenvolvimento ao longo de toda a vida.
Erikson definiu estádios de desenvolvimento para toda a vida. Assim, a partir dos 30 anos de idade, é uma fase de afirmação pessoal no mundo do trabalho e da família. A vertente negativa leva o indivíduo à estagnação nos compromissos sociais, à falta de relações exteriores, à centralização em si próprio.
A partir dos sessenta anos é o estádio da integração e compreensão do passado vivido. È preciso saber como não cair no desespero.
O preconceito em relação à velhice deve ser desconstruído. Para isso, a actividade, a utilização das nossas capacidades devem ser postas ao serviço da luta contra a exclusão, o afastamento a solidão…
Para quem passou toda a sua vida profissional a integrar os jovens não seria descabido que os jovens, principalmente aqueles que nos governam, não excluíssem os seus maiores da vida activa cedo de mais e sem qualquer preparação.

[1] Contudo, mais de um terço dos portugueses (36%) já começou a preparar a reforma, valor que representa uma subida de 11 pontos percentuais face a 2006.
O mesmo estudo revela que 42% da população afirma estar informado sobre a preparação da reforma, quando em 2006 o valor era apenas de 36%.
O estudo sobre a preparação para a reforma foi realizado para a Fidelity pela consultora TNS na Suíça, Holanda, Alemanha, Áustria, Suécia, França, Itália e Portugal, entre Novembro e Dezembro de 2007, e foram entrevistadas 4104 pessoas entre a população activa com mais de 18 anos.

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