05/09/07

Entrada na escola: aspectos psicológicos e pedagógicos

Todos nos lembramos, mesmo que vagamente, do nosso primeiro dia de escola e da importância que para nós teve o professor.
João de Melo em Gente Feliz Com Lágrimas descreve assim a felicidade de Maria Amélia quando da sua entrada na escola:
O primeiro dia de escola é, assim, preparado com expectativa pelas crianças mas também pelos pais. Embora os pais enfrentem esta situação com bom senso e de modo geral a situação é ultrapassada da melhor maneira, vamos referir alguns aspectos que podem ter interesse para os pais.
"Papá fizera-me uma malinha de madeira de ripa, muito leve, envernizou-a, adaptou-lhe um pequeno trinco de mola. Pus nela um lápis, duas folhas de papel almaço, um pauzinho de giz branco e uma ardósia. A escola vinha subtrair-me à casa, às terras aos maus tratos e à violência de lidar com os animais. As pessoas iam deixar de confundir-me com as galinhas, os porcos e os cães. Jurei que aprenderia depressa as estranhas coisas que até então me separavam dos adultos: as letras e os números. As cifras que resultam da combinação das letras com os números. Queria sentir a própria pulsação do mundo, sobretudo do que existia para além do mar... O quadro negro, nessa primeira manhã de aulas, pareceu-me logo possuído duma transparência misteriosa... O fascínio do globo terrestre, posto a rodar em torno dum eixo oblíquo sobre a secretária e ao contacto com o homem que estava ali para me ensinar o mundo, desvendou-me grandes mistérios... "
O papel dos pais consiste, assim, em:
- enfrentar com serenidade esta circunstância
- transmitir confiança ao filho que vai entrar na escola
- dar uma imagem positiva da escola ( diferente de uma instituição repressiva)
- ajudar a criar na criança motivação para aprender
- encorajar, desde os primeiros dias, os filhos nesta nova experiência
- compreender que o desenvolvimento da criança passa por esta separação e pela integração num novo ambiente
- acompanhar as actividades que a criança vai desenvolver na escola
- apoiar no estudo e criar um espaço próprio e condições que facilitem a aprendizagem
- compreender que entrar na escola não significa que toda a educação depende da escola. A participação em outras actividades de lazer, desportivas e culturais faz parte da educação integral, assim como a participação nas actividades comunitárias.
Mas que escola é esta em que a criança vai ser integrada?
Seria desejável que fosse a escola de que nos fala João dos Santos, para quem ESPAÇO É ESCOLA, ESCOLA É MÃE.

" Uma criança precisa para existir de ESPAÇO. Para que uma criança crie espaço, precisa de ter mãe: para que um corpo se confronte com o seu; para que nesse espaço se possa desenvolver o gesto - "onde põe a pitinha o ovo?" - se metem as palavras e se organize a linguagem que é basicamente emoção e AMOR. Não basta comunicar pelo gesto ou pela palavra. É necessário que a comunicação se faça num enquadramento de linguagem que é: sistema de referências, RELAÇÃO, espaço plástico gerido por cada um e por todos. É a linguagem que preenche o espaço entre as pessoas; é no envolvimento da linguagem que se processa a comunicação.
A criança precisa de ter ESPAÇO para descobrir e se descobrir, para se ver ao espelho, no OUTRO, nos outros, para que alguém lhe possa estender as mãos, para que ela receba a mensagem da cultura, para que a criança possa adquirir sabedoria...A criança precisa de ter espaço para criar tempo. Tempo para brincar, tempo que seja TODO. TEMPO INTEIRO, para sentir, aprender, pensar... nas coisas sérias da vida... no brincar. Para que possa ler na Natureza, nas Pessoas e nas Coisas.... A escola ensina , ou deveria ensinar, a comunicar à distância - no tempo e no espaço - mas só depois de as crianças e dos mestres entenderem que a comunicação escrita é um instrumento intermediário da cultura e não a própria cultura".

Carlos Teixeira

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