04/09/13

Psicologia escolar: uma política de mais e menos


Após umas férias merecidas regressámos à rotina do trabalho quotidiano. No meu caso o regresso à escola.
Na educação (e não só), vamos tendo notícias a conta-gotas e quando temos uma noticia positiva logo a seguir temos uma informação que deixa as pessoas apreensivas (1; 2):
No próximo ano lectivo haverá mais vagas para psicólogos nos agrupamentos escolares da rede pública. O Ministério da Educação autorizou no início do mês a contratação de 181 técnicos (mais cinco que em 2012-2013), mas resta saber se esse aumento significa que os psicólogos vão estar mais tempo na escola e mais tempo também com os alunos. A dúvida seria fácil de esclarecer se a Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares já tivesse publicado no seu site a lista com a colocação destes profissionais, como aconteceu em anos anteriores. A informação ainda não está disponível, mas haverá pelo menos 30 agrupamentos espalhados pelo país com horários reduzidos para metade.
O i quis saber junto da tutela quantos agrupamentos no total reduziram para metade o tempo do serviço de psicologia escolar, mas não obteve respostas até ao fecho desta edição.O certo é que escolas e agrupamentos que no ano passado contrataram psicólogos com horário de 35 horas semanais se preparam agora para lançar concursos de 18 horas por semana...

No entanto, é difícil avaliar o que isto significa. Aparentemente, é um retrocesso mas não sabemos o que se passa nos vários subsistemas de intervenção social que envolvem a intervenção psicológica nas escolas. Não sabemos quantos psicólogos estão a trabalhar nesses subsistemas e desses quantos apoiam crianças com problemas escolares. (1)
Será que podemos pensar que, no limite, a administração central pode prescindir dos psicólogos na escola ?
Também podemos viver sem médicos ou sem padeiros, pelo menos até nos faltar o pão ou até precisarmos de fazer uma intervenção cirúrgica. Mas nessa coisa da mente é mais difícil ver a sua necessidade. Há mesmo quem não enxergue um palmo à frente da sua realidade psicológica quanto mais achar que se justifica um SPO numa escola. A mente vê-se pelos seus resultados e só quando são insuportáveis socialmente é que se acha que devem ser tratados.
"Imaginem que por uma hipótese absurda, se decretava que, a partir de hoje, não se considerava mais, na nossa vida quotidiana, nenhuma descoberta da medicina, nem da física, no decurso destes últimos trinta anos. A nossa existência ficaria tão modificada que se torna difícil imaginá-la. Calculem agora que havia outro decreto que suprimia, na prática escolar, as descobertas da psicologia e das ciências de educação durante o mesmo espaço de tempo: nem crianças nem professores se aperceberiam da diferença ou dificilmente se aperceberiam. (A. Clausse, referido por Jadoulle, Psicologia escolar, 1976, pag.122, orig. 1965, PUF).
Pois é. Podemos não dar por isso, mas as consequências serão dramáticas para a vida de alguns alunos.

Fazem falta ou não mais psicólogos nas escolas? Se quisermos ser rigorosos devemos conhecer a realidade mais profundamente.
Nunca houve uma rede coerente de SPO a nível nacional e foi isso que sempre fez falta: a criação de uma rede de serviços que possa dar resposta às dificuldades dos alunos.
Mas, como se fôssemos um país rico para nos podermos dar ao luxo de ter vários subsistemas concorrentes dentro do sector público ou pagos com dinheiro público, em vez disso, proliferaram as mais variadas respostas que coexistem paralelamente ou em sobreposição com os SPO, dentro das escolas, noutros sistemas, ou ainda nas instituições privadas de solidariedade social.
Assim, dentro das escolas, podemos encontrar, além dos SPO: 
- Gabinetes de apoio ao aluno e à família , no âmbito das escolas TEIP (GAAF). 
- Gabinetes com funções específicas de Informação e Orientação.
- Psicólogos contratados anualmente.
- Psicólogos contratados por associações de pais e encarregados de educação.
Noutros sistemas públicos:
- Psicólogos do sistema de saúde: Centros de desenvolvimento dos Hospitais, Centros de saúde, Serviços de psiquiatria infantil.
- Psicólogos do Sistema Nacional de Intervenção Precoce (SNIPI).
- Psicólogos de projectos, como o PIEF.
- Gabinetes de apoio das delegações do IPJ.
Em IPSS e Associações:
- Psicólogos de IPSS que desenvolvem projectos nas escolas.
- Psicólogos dos centros de recursos para a inclusão (CRI).
E, provavelmente, outras situações...
Com tantos psicólogos com possibilidade de intervenção na educação, é difícil calcular o rácio psicólogo/alunos existente.
Claro que podemos limitar-nos ao sistema educativo mas isso não seria rigoroso.

É por isso que as notícias que têm vindo a público sobre a colocação de psicólogos deveriam ser vistas tendo por base todos os contextos dos psicólogos do sector público que, directamente, nos SPO ou, indirectamente, através de outros serviços, trabalham no âmbito das competências dos SPO.



28/08/13

Zé perpétuo



Em 2009, começou a peceber-se o que está a acontecer em 2013. Foi o que escrevemos em Zé perpétuocansativas carreiras, de de de da da da e presidentes para sempre. 

Mesmo discordando praticamente de todas as propostas que a (dita) esquerda tem apresentado, não há regra sem excepção. Esta é uma excepção. Tentar impedir, até ao fim, que haja candidatos que não cumprem a lei da limitação de mandatos é estar do lado do estado de direito.

27/08/13

Chiado



"O Chiado tem uma história multisecular de boémios e intelectuais. Cafés, restaurantes, livrarias, lojas de moda e grandes armazéns marcaram gerações na história da cultura portuguesa. Impossível enunciar quantas figuras da intelectualidade portuguesa foram marcadas e inspiradas pelo Chiado boémio e erudito. Garrett, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Bocage e tantos outros, encontraram no Chiado o espaço ideal para as suas deambulações poéticas, filosóficas e doutrinárias." (Chiado, meu amor, "Pórtico", Albérico Cardoso, Lucidus-Publicações, Lda)

Nos anos 70 e 80, o Chiado fez parte do meu espaço geográfico, cultural e afectivo. Passava por ali quase todos os dias. Na rua da Emenda, onde ficava o ISPA, um pouco mais acima, foi o início da minha formação académica. Frequentava algumas livrarias: Bertrand, Moraes, Sá da Costa, Portugal... Passávamos pelo Bairro Alto, rua da Rosa, a caminho da Escola Politécnica, onde almoçávamos em Ciências.
Deambulávamos pelas lojas de discos, de moda, Grandes Armazéns do Chiado, onde mandei fazer um fato para uma ocasião especial. Entrava-se, do lado esquerdo, subiam-se algumas escadas, e aí estava a alfaiataria onde se era atendido com toda a distinção.
Nos anos 80, quando trabalhava na rua do Século, dar uma volta pelo Chiado, era uma das rotinas mais frequentes.

O Chiado faz parte do imaginário dos portugueses, e é, por isso, mais do que um local de Lisboa. Foi inspiração de gente de vários quadrantes da música popular: Vicente da Câmara, Filarmónica Fraude, UHF, Vitorino, moda das tranças pretas, animais de estimação, rua do Carmo, leitaria Garrett...

Vicente da Câmara - A Moda das tranças pretas

Filarmónica Fraude - Animais de estimação

UHF - Rua do Carmo

Vitorino - Leitaria Garrett

Em 25 de Agosto de 1988 morreu algum deste Chiado. Mas há quem se continue a apaixonar por Lisboa e por este velho novo local.

Melody Gardot - Lisboa


Não havia necessidade ... de ser lembrado com um simulacro do incêndio. Qualquer dia... não seria de espantar se acontecesse a sugestão aqui feita para outras comemorações. 



05/08/13

Provedores, observadores ... e outros tutores


Tanta gente a tomar conta da gente! Querem prover tudo e observar tudo. Em vez de sermos nós a fazê-lo.

Há provedores para tudo. O que se pode fazer para não ter um provedor se não se estiver interessado em ter provedor, por exemplo, do leitor, da RTP, da RDP ? Provavelmente nada. Excepto uma coisa: não os ler ou não os ouvir.

proliferação de provedores sectoriais é um problema que não é novo. 

Depois há os observatórios. Para tudo e todos os gostos. A quantidade de observatórios portugueses !
Há-de chegar o tempo em que cada português vai ter um observatório !

Como não chegam os observatórios há também as  fundações. O observatório observa a fundação ou a fundação fundamenta o observatório ?

Um país pequeno e doce


Eu estou completamente apaixonado por Portugal. Sempre apaixonado doente.

Isto é mesmo assim... mas funciona !

Talvez seja falta de leitura.

Ler, ler, ler, o vício da leitura... ajuda a estar sozinho.
Escrever ... quando há livros não há solidão... desde que não me chateiem.

O lado repressivo... não deixem ninguém aproximar-se do poder... alteram-se... ficam  tiranetes do pior...

Os portugueses só pensam na pessoa amada.
Sentimental. As pessoas não têm medo de chorar.

As mulheres nunca dizem aquilo de que gostam. Há uma que de vinte em vinte anos diz.

A solução é cada um. Um país com dez milhões de soluções não é problema.





02/08/13

Iogurte natural sem açúcar


O consumismo faz esquecer o que nos interessa e leva-nos a comprar o que pensamos que queremos. Entra-se no supermercado para comprar a e sai-se de lá com o alfabeto todo no saco. Muitos produtos que não precisamos e  alguns que nem sequer são assim tão bons para a saúde.

Tem sido um enigma encontrar no supermercado  iogurte natural sem açúcar. Voltas e mais voltas, mil variedades de iogurtes: com sabores, com frutas, com frutos secos, de imensas marcas, marca branca, líquidos, para a prisão de ventre, para as defesas, para o colesterol, de todas as maneiras. Mas onde é que metem o raio dos iogurtes naturais ?

O marketing e merchandising fazem-nos esquecer aquilo que é mais importante: a saúde pessoal, a saúde ambiental. Embora, ultimamente, haja cada vez mais referências ao ecológico.
Mas, quando nos recordam isso, devemos ter cuidado. O greenwashing faz parte da simpatia com que nos impingem os produtos mesmo que pouco tenham de ecológico. O "ecológico" não é o que parece.(Goleman)

"Vivemos o nosso quotidiano imersos num mar de coisas que compramos, usamos e deitamos fora, desperdiçamos ou guardamos. Todas possuem uma história própria e o seu próprio futuro, estando os antecedentes e o fim em grande medida ocultos dos nossos olhos, uma rede de impactes deixados ao longo do caminho, desde o momento da extracção ou mistura dos seus ingredientes, durante o seu fabrico e transporte, passando pelas consequências discretas da sua utilização nas nossas casas e locais de trabalho, até ao dia em que a deitamos fora. E, no entanto, os impactes invisíveis de todas essas coisas podem constituir o seu aspecto mais importante." (Goleman, cap.1 - O preço oculto do que compramos, pag.10)

Vamos sabendo cada vez mais sobre aquilo que comemos, aquilo que nos cura e aquilo que nos mata.
Há assuntos que não podem continuar a ser ignorados como os referidos n' O livro negro do açúcar



SPO: mais psicólogos para as escolas

01/08/13

Confiança


O Governo pediu ao Parlamento um voto de confiança à sua acção. A democracia é assim que funciona. Com a utilização dos instrumentos da democracia formal. 
Podem os que se opõem ao governo  desprezar esses instrumentos. É, aliás, sintomático que estando no Parlamento apoiam os manifestantes cá fora que acham que o Parlamento é uma inutilidade.
Herdeiros daqueles que em tempos a cercaram, põem em causa ou desvalorizam as  funções da Assembleia da  República, em particular quando elas lhes são desfavoráveis.
As manifestações da assistência, orquestradas ou não, é para isso que também têm servido: desvalorizar as funções do centro da democracia.
Apesar de os políticos fazerem tudo para não se poder confiar neles, os instrumentos da democracia formal são melhores do que  "a imprevisibilidade e a arbitrariedade" da rua.

Dito isto, é necessário reflectir sobre a confiança. O desprestígio e a falta de confiança vêm sobretudo de dentro. Do Parlamento e de cada um.
A confiança politica não pode deixar de ser confiança psicológica: "Atitude de tranquilidade derivada do convencimento que se possui de que algo ou alguém , inclusive o próprio, se portará ou funcionará como se espera". Esta confiança fundamental é a "sensação de que o mundo é previsível e fidedigno" (Enciclopédia da Psicologia, vol. 4, pag 47).
Tanto a falta de confiança como o excesso de confiança podem atrapalhar e enviesar as experiências que se têm e  facilitar a justificação dos fracassos.
O Sr. Presidente da República tem chamado a atenção para a necessidade de previsibilidade do comportamento das instituições e do país.  (1 ;  2) *

Nos tempos que correm quem pode ter confiança de que os políticos se portarão ou funcionarão como se espera ? E espera-se que seja como dizem e como prometem. Por isso a questão diz respeito a todos os políticos quer se considerem do grupo dos bons quer sejam considerados do grupo dos maus (já que todos eles se acham bons). Quem tem confiança nos políticos ?  A fazer fé neste estudo são apenas 4% dos portugueses, o  que deve incluir os próprios políticos que confiam em si próprios.
A crítica a fazer é indispensável para que a "transparência radical" (Goleman) seja apanágio do Parlamento. Não o é quando se percebe que o parlamento é a casa dos interesses e "o centro de corrupção" (Paulo Morais em relação ao parlamento anterior (2011) e ao parlamento actual).
Se assim é, porque não é criada uma comissão parlamentar de inquérito ao parlamento ?
A confiança do governo vem da maioria do parlamento mas o parlamento tem que merecer a confiança dos cidadãos que o elegem.

 * Esta previsibilidade que se chama de "os mesmos" também não deve ser ignorada.