01/08/13

Confiança


O Governo pediu ao Parlamento um voto de confiança à sua acção. A democracia é assim que funciona. Com a utilização dos instrumentos da democracia formal. 
Podem os que se opõem ao governo  desprezar esses instrumentos. É, aliás, sintomático que estando no Parlamento apoiam os manifestantes cá fora que acham que o Parlamento é uma inutilidade.
Herdeiros daqueles que em tempos a cercaram, põem em causa ou desvalorizam as  funções da Assembleia da  República, em particular quando elas lhes são desfavoráveis.
As manifestações da assistência, orquestradas ou não, é para isso que também têm servido: desvalorizar as funções do centro da democracia.
Apesar de os políticos fazerem tudo para não se poder confiar neles, os instrumentos da democracia formal são melhores do que  "a imprevisibilidade e a arbitrariedade" da rua.

Dito isto, é necessário reflectir sobre a confiança. O desprestígio e a falta de confiança vêm sobretudo de dentro. Do Parlamento e de cada um.
A confiança politica não pode deixar de ser confiança psicológica: "Atitude de tranquilidade derivada do convencimento que se possui de que algo ou alguém , inclusive o próprio, se portará ou funcionará como se espera". Esta confiança fundamental é a "sensação de que o mundo é previsível e fidedigno" (Enciclopédia da Psicologia, vol. 4, pag 47).
Tanto a falta de confiança como o excesso de confiança podem atrapalhar e enviesar as experiências que se têm e  facilitar a justificação dos fracassos.
O Sr. Presidente da República tem chamado a atenção para a necessidade de previsibilidade do comportamento das instituições e do país.  (1 ;  2) *

Nos tempos que correm quem pode ter confiança de que os políticos se portarão ou funcionarão como se espera ? E espera-se que seja como dizem e como prometem. Por isso a questão diz respeito a todos os políticos quer se considerem do grupo dos bons quer sejam considerados do grupo dos maus (já que todos eles se acham bons). Quem tem confiança nos políticos ?  A fazer fé neste estudo são apenas 4% dos portugueses, o  que deve incluir os próprios políticos que confiam em si próprios.
A crítica a fazer é indispensável para que a "transparência radical" (Goleman) seja apanágio do Parlamento. Não o é quando se percebe que o parlamento é a casa dos interesses e "o centro de corrupção" (Paulo Morais em relação ao parlamento anterior (2011) e ao parlamento actual).
Se assim é, porque não é criada uma comissão parlamentar de inquérito ao parlamento ?
A confiança do governo vem da maioria do parlamento mas o parlamento tem que merecer a confiança dos cidadãos que o elegem.

 * Esta previsibilidade que se chama de "os mesmos" também não deve ser ignorada. 

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