15/09/22

A primeira vez: a entrada na escola


M. (6;3) - Pré-escrita. *

(Dois pedidos para o jantar)




Como costumamos dizer há sempre uma primeira vez para tudo. A entrada na escola é a primeira vez de muitas outras que se seguirão. É talvez, no nosso percurso escolar, a primeira vez mais importante que fica na nossa memória.

A minha ficou e lembro-me de que no primeiro dia fui com minha mãe que me apresentou e me entregou à responsabilidade do Sr. professor António Mendes...

e lembro-me de como foi difícil esse primeiro dia apesar de conhecer todas as crianças que entraram naquele ano e naquela sala, da escola dos rapazes.

 

Para os pais a situação não é mais fácil. Fui percebendo, como pai, e agora como avô, como é difícil a separação destes pequenos grandes homens e mulheres de 6 anos, que ingressam no 1º ano.

O 1º ano do 1º ciclo é a primeira grande separação das crianças dos seus pais. 

Como já aqui e aqui escrevi: “O primeiro dia de escola é para a criança um acontecimento importante caracterizado objectivamente pela separação da família e pelo encontro com um novo mundo. É também importante pelas expectativas que lhe foram criadas pelos adultos e pelas outras crianças."

 

Verifico com curiosidade que o governo, ao anunciar algumas medidas para fazer face à crise económica e social actual, usou o lema : “Famílias primeiro”.

Seria motivo suficiente para apoiar incondicionalmente não fosse, como de costume, a suspeita de que se trata apenas de retórica.

As famílias – que para o serem tem que haver uma criança no agregado - deviam, de facto, estar em primeiro lugar, porque ao olhar para elas não podemos deixar de ficar impressionados com as suas fragilidades em contraste com as exigências que são feitas a pais e filhos para frequentarem a escola.

 

A entrada na escola é uma das situações críticas da vida familiar. A família enquanto organização dinâmica sofre mudanças permanentemente, mudanças que são crises normativas como as que já sabemos que vão ocorrer   ou não-normativas se forem imprevisíveis, acidentais e inesperadas.

Podem ainda ser mistas quando ocorrem crises acidentais ao mesmo tempo de crises previsíveis.

Todos os pais conhecem esta crise previsível: a dificuldade de escolha da escola que consideram mais adequada para os seus filhos, pública, particular, social, e das características que oferece: qual o projecto educativo, número de alunos, número de alunos por sala, os horários das aulas, os intervalos, as actividades, os transportes, quem são os professores, os preços...

Depois vem a preparação necessária: os materiais, livros,  a roupa, a farda, os transportes, as refeições, ir levar e buscar... e conjugar tudo com os horários e trabalho dos pais. 

Para que tudo funcione é necessário haver uma rede de confiança nos outros intervenientes para poderem ir trabalhar com alguma tranquilidade e, mesmo assim, com todas as preocupações. É que no mundo e nas comunidades a confiança e segurança não melhorou. Pelo contrário...

Por isso, nada pode ser deixado ao acaso, tudo tem que ser conjugado e articulado com os vários intervenientes que devem ser competentes no seu ofício e cuja personalidade mereça confiança...

 

Finalmente, para as crianças começa esta grande aventura... E os seus pais são os grandes heróis desta etapa da vida familiar por conseguirem ultrapassar esta crise repleta de todos estes problemas e porque, mesmo sabendo de tudo isto e  de todos estas dificuldades, há pais que querem continuar a ter filhos e a amá-los acima de todas as coisas.


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* A pré-escrita é uma etapa do desenvolvimento da expressão gráfica da criança. É, entre outros procedimentos, uma boa indicação de que atingiu a maturidade  necessária para iniciar as aprendizagens escolares.








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