07/12/21

Ser conservador (2)



Falámos, a semana passada, na difícil opção de ser conservador, em particular no caso português, devido ao enviesamento  resultante da passagem  de um regime autoritário para uma situação de liberdade e de vivência democrática, em que  tudo o que tivesse a ver com esse  passado era  identificado com conservadorismo, mesmo quando nada tivesse a ver com o regime deposto. 


No entanto, esta dificuldade acontece também em outros países mesmo naqueles que tradicionalmente têm uma forte mentalidade dos valores  conservadores...

Já tínhamos percebido, entre nós, acerca desta desvantagem em particular nos meios universitários. Como refere Roger Scruton, em Como ser  um conservador * “não é invulgar ser um conservador mas é invulgar ser um intelectual conservador. Tanto na Grã-Bretanha como na América, cerca de 70% dos académicos identificam-se a si mesmos como “de esquerda”, enquanto a cultura circundante é cada vez mais hostil aos valores tradicionais ou a qualquer possível reivindicação das nobres conquistas da civilização ocidental.” (pag. 15)

Foi isto que aconteceu também entre nós, principalmente entre os universitários que, como referi, se resumiam a ser de esquerda com prejuízo de todos aqueles que pensassem de outra forma.

 

Mas o que é então o conservadorismo? Segundo Roger Scruton, herdamos colectivamente coisas virtuosas que devemos empenhar-nos em manter... Porém, essas  coisas virtuosas estão todas sob ameaça.

"O conservadorismo tem origem no sentimento que todo o indivíduo com maturidade pode partilhar sem demora: o sentimento de que as coisas virtuosas são facilmente destruídas, mas não facilmente criadas. Isto é especialmente verdadeiro para as coisas virtuosas que nos chegam como bens colectivos: paz, liberdade, lei, civilidade, espírito público, a segurança da propriedade e da vida em família, tudo aquilo em que dependemos da cooperação dos outros, não tendo meios de obter sozinhos. A respeito de tais coisas, o trabalho da destruição é  rápido,  fácil e entusiasmante; o trabalho da criação, lento, laborioso e monótono. É  uma das lições século XX. É  também uma razão pela qual os conservadores sofrem de tamanha desvantagem junto da opinião pública. A sua posição é verdadeira mas enfadonha; a dos de seus opositores excitante mas falsa.” (pag.11)

 

Roger Scruton faz uma avaliação da verdade, ou da falta dela, das várias correntes sociopolíticas: nacionalismo, socialismo, capitalismo, liberalismo, multiculturalismo, ambientalismo, internacionalismo e do próprio conservadorismo.

Muitas coisas estão a acontecer agora. Algumas, sob a capa de um aparente humanismo, de bondade para as pessoas, como é o caso do multiculturalismo, internacionalismo e do ambientalismo... Mas assim não é, de facto, e são estas zonas de conflito que estão a trazer ameaças entre muitos países do mundo, em particular da Europa, como no caso Polónia-Bielorrússia, que são fonte de grande controvérsia entre os cidadãos, e deve, por isso, ser pensada numa perspectiva mais profunda e mais justa do que se passa nos vários movimentos sociais que estão a acontecer.

 

Para Roger Scruton “o conservadorismo é a resposta racional e não-reaccionária a essa ameaça. Talvez seja uma resposta que exige mais compreensão do que aquela que a pessoa comum está preparada para dedicar.” (Contracapa)

 

 

 

Até para a semana.


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* Roger Scruton, Como ser um conservador, Guerra e Paz, 2021 (orig. 2014).






 




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