28/11/21

Ansiedade: companheira de vida

O grito

Temos ansiedade porque somos inteligentes e porque a ansiedade é uma capacidade adaptativa aos acontecimentos da vida. “A ansiedade é uma emoção que nos é familiar”(1).  Ela acompanha toda a nossa vida em tudo o que pensamos, vivemos e fazemos. Ajuda muitas vezes, mas em outras, também atrapalha tudo e é uma "companheira de vida muito incómoda".

Quando adoecemos é a ansiedade que desperta a doença ou é uma consequência da doença. Ou as duas coisas juntas...
A tendência dos profissionais de saúde, familiares e amigos, é para a desvalorização daquilo que estamos a sentir: “isso é só ansiedade”. Só, entendem? Ou então, pior: “Isso é só da tua cabeça”...

Seja como for, a ansiedade de certeza que começa a ser um problema – começa a ser patológica (2) - quando surgem alguns sintomas bastante desagradáveis: 
quando surge a insónia,
quando surge a dor,
quando interfere com a nossa realização pessoal, social ou profissional,
quando surge a dificuldade em nos concentrarmos e focarmos, 
quando nos tornamos inseguros e preocupados,
quando começamos a deixar de participar ou a participar menos nas actividades sociais,
quando a nossa qualidade de vida diminui como consequência de não nos sentirmos bem,
quando nos sentimos tristes por não sabermos a causa do nosso sofrimento,
quando já temos alguma idade e pensamos que estas coisas são próprias do envelhecimento e tem mesmo que ser assim...

Apesar destes sintomas, gostamos da vida e de viver os instantes de felicidade, queremos viver nem que seja mais um minuto, temos projectos para o futuro próximo, continuamos a ter um sentido e um propósito para a vida.
Podemos ter fé, nem que seja, simplesmente, a fé na vida, que nos ajuda a perceber que a vida é sagrada até ao último instante e nos ajuda a aceitar as dificuldades próprias do tempo terreno do ser humano.

Na esperança de um diagnóstico clarificador da nossa falta de saúde, procuramos tudo: 
as respostas da ciência que nos dá a medicina,
a compreensão, diagnósticos e terapias que nos dá a internet ("Dr. Google"),
as interpretações que nos dão as terapêuticas tradicionais, de familiares ou pessoas conhecidas,
a fitoterapia: os chás de camomila, cidreira, espinheira-santa, etc.,
as alterações na nutrição: as dietas alcalinas, o regime paleolítico...,
sei lá, o mundo de informações e desinformações ou até de manipulações, que passam a invadir o nosso quotidiano (3).

Creio que já aqui disse, que perante uma alteração da saúde devemos começar por diagnosticar ou descartar os problemas biológicos sem descurar os aspectos psicológicos, porque as doenças são da pessoa que é corpo e mente...
Sim, é necessário fazer todos os exames disponibilizados pela ciência para elaborar um diagnóstico que possa justificar o nosso sofrimento.
Por outro lado, é necessário que a pessoa se conheça ou que seja ajudada nesse conhecimento, para se saber até onde uma perturbação psicológica pode influenciar a nossa saúde física ou, ao contrário, a nossa saúde física influenciar a nossa vida psicológica.

Até para a semana.

________________________


(1) Pilar Varela, Ansiosa-mente - Chaves para reconhecer e desafiar a ansiedade, 3ª ed., a esfera dos livros.


(2) Para  descrição das perturbações de ansiedade, pode consultar, p.ex., o DSM.


(3) Tem à disposição uma série imensa de actividades que alguns consideram terapias, medicina alternativa... e nelas acreditam. A crença de que se pode melhorar com estas actividades pode ter resultados. Tal como o placebo, funcionam e nunca pode ser ignorado. Os modelos deterministas são, por certo, demasiado lineares para explicarem a realidade psicossomática do sofrimento humano.



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