05/05/21

Manifestações violentas



As manifestações do 1º de Maio em Bruxelas, Paris e um pouco por todo o lado,  apesar do controle dos respectivos aparelhos político-sindicais dos partidos, acabam quase sempre na maior das confusões entre várias facções  e destas com as forças da ordem ...

Estas manifestações, em regimes democráticos, deviam ter um clima reivindicativo um clima de alegria, paz, confraternização entre todos os trabalhadores ... ao contrário são marcadas pela violência entre manifestantes, contra a propriedade privada mas também a pública, violência contra a polícia ...


Movimentos e grupos sociais velhos ou novos, radicais, mas com ideias feitas, dos velhos anarquistas aos novos grupos de “acção directa”, facciosos das novas formas de violência climática, populistas, patrulheiros da linguagem e dos costumes, dos hábitos alimentares, envolvem-se nesta intervenção violenta. 

Claro que há no meio desta gente pessoas bem intencionadas que se vêem envolvidas nesta gelatina  de ideias feitas, indisciplinada, sem regras, onde vale tudo, que se sente abrangida pela impunidade já que o poder, mesmo democrático, tem receio  de enfrentar estas ideias “taxativas”, como se dizia em Maio de 68: “é proibido proibir”.


José Ortega e Gasset, em 1930, há mais de 90 anos, fez a compreensão deste fenómeno e deu a resposta à questão. Escreve:

 .”.. creio que as inovações políticas dos mais recentes anos não significam outra coisa senão o império político das massas. A velha democracia vivia temperada por uma dose abundante de liberalismo e de entusiasmo pela lei. 

 ... Democracia e Lei, convivência legal, eram sinónimos. Hoje assistimos ao triunfo de uma hiperdemocracia em que a massa actua diretamente sem lei, por meio de pressões materiais, impondo suas aspirações e seus gostos. “

O cap. VIII  da Rebelião das massas * tem justamente o título: "Por que as massas intervêm em tudo, e por que só intervêm violentamente".

É assim porque o “homem médio” tem "ideias" taxativas sobre quanto acontece e deve acontecer no universo. Por isso perdeu o uso da audição. Só se ouve a si próprio e é cego e surdo para a opinião dos outros.

Estas “ideias" taxativas não significam exactamente cultura. Refere Gasset: “O que digo é que não há cultura onde não há normas a que se possa  recorrer. Não há cultura onde não há princípios de legalidade civil a que apelar. “...

“Quando faltam todas essas coisas, não há cultura; há, no sentido mais estrito da palavra, barbárie. E isto é, não tenhamos ilusões, o que começa a haver na Europa sob a progressiva rebelião das massas." (p.136-137)


Donde vem tudo isto?

Gasset refere: “aqueles grupos sindicalistas e realistas franceses por volta de 1900, inventores da maneira e da palavra "ação directa". (p. 139)

Estes grupos de "acção directa", de facto, estão em tudo, são violentes e não se pode questionar as “ideias” do homem-massa seja sobre o que for:  o clima, a história, o racismo, o colonialismo, a escravatura, as políticas, os comportamentos... 


Até para a semana.

 

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 * Há uma edição brasileira em formato digital - A rebelião das massas.










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