29/04/21

Amor e ódio


A RTP1 exibiu na última semana alguns filmes clássicos como Lawrence da Arábia, West side story - amor sem fronteiras, Green book – um guia para a vida, que me sugeriram haver entre eles um fio condutor: o amor em contraposição ao ódio que torna o amor impossível. 

A vida de Lawrence da Arábia (1) manifesta um personagem singular que se envolve na luta de árabes contra o império turco-otomano,  com a violência que sempre acompanha estas guerras pela supremacia entre povos.  

Em West side story - Amor sem fronteiras (2), o conflito entre jovens de Nova York,  de um gang de anglo-saxónicos  versus um gang de porto-riquenhos, mostra como o ódio de grupos diferentes torna impossível  o amor entre as pessoas e a felicidade algo sempre distante.

Em Green book – Um guia para a vida (3), somos confrontados com a ligação inesperada entre um pianista afro-americano de renome mundial,  músico clássico, com um italo-americano, o seu motorista, em que ambos  enfrentam os perigos de uma era de segregação racial, ligação que não é compreendida nem aceite  pela sociedade da altura (anos 60).  


Nestas três situações podemos constatar que o amor e o ódio  atingem  toda a sociedade: indivíduos, famílias, etnias, grupos... O conflito e o ódio não são nem mais nem menos do que uma mancha que se espalha igualmente por toda a sociedade e têm acompanhado toda a história da humanidade: West side story é a história de Anton e Maria, no séc. XX (1961), de Romeu e Julieta, no séc. XVI (1591), de Píramo e Tisbe, no sec. I AC.


Para os etologistas, amor e ódio são comportamentos etológicos fundamentais  inscritos na nossa natureza, inatos. Por isso, o ódio está em ambos os lados dos conflitos, sejam racistas, xenófobos, religiosos, políticos, desportivos, de discriminação social ou outra, violência familiar e doméstica,...

A  pergunta é então: por que não mudam os comportamentos das pessoas, ou seja, por que não se procuram outros caminhos igualmente etológicos como a ritualização e os comportamentos vinculativos ?

Mesmo quando há vencedores nestes conflitos, a prazo são todos perdedores, como em West side story, mas isso não é suficiente para inibir o ser humano a que o ódio  volte sempre a renascer das cinzas do último conflito...


A esperança de ultrapassar o ódio, apesar disso, é que também pode haver mudança, se os indivíduos forem vistos como  seres humanos e não como grupos diferentes, inferiores ou superiores. A esperança de que a vitória está na vinculação amorosa  entre  Anton e Maria, que  não conseguiram superar o ódio dos gangs, nem evitar uma batalha de rua, fatal, mas que coloca a interrogação: Para quê o ódio ?  

No nosso futuro, a nossa vida vai continuar a ter estes comportamentos etológicos: agressividade e amor. Quero acreditar que um dia, qualquer individuo será visto como ser humano e os vínculos amorosos terão um papel efectivo nas nossas relações.

 

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(1) O argumento do filme baseia-se na biografia de T. E. Lawrence (1888–1935) descrita no seu livro Sete Pilares da Sabedoria. Realização: David Lean (1962).

(2) West Side Story - Amor Sem Barreiras. Realização de Robert Wise. (1961).

(3) Green Book - Um guia para a vida. Realização de Peter Farrelly (2018).






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