A nova encíclica do papa Francisco, Fratelli Tutti» trata de “uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita.”
Inspirado pelos ensinamentos de S. Francisco dedica “esta nova encíclica à fraternidade e à amizade social.”
O papa refere “esta encíclica como humilde contribuição para a reflexão, sobre as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, e por outro lado sobre um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras."
Francisco passa em revista algumas das várias formas de eliminar ou ignorar os outros. Nesta análise, Francisco faz notar a contradição entre as palavras que se apregoam e a realidade
Vou referir, resumidamente, alguns dos pontos dessa análise.
- Num tempo de abertura ao mundo o que acontece é que voltam com toda a força “As sombras dum mundo fechado“.
“ A história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos anacrónicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos. “
Queremos a economia e as finanças abertas ao mundo. Porém, este “globalismo favorece normalmente a identidade dos mais fortes em desfavor dos mais frágeis e pobres...
- Assistimos a “uma perda do sentido da história que desagrega ainda mais. Nota-se a penetração cultural duma espécie de «desconstrucionismo», em que a liberdade humana pretende construir tudo a partir do zero. De pé, deixa apenas a necessidade de consumir sem limites e a acentuação de muitas formas de individualismo sem conteúdo."
Proíbem-se livros, vandalizam-se monumentos, reescreve-se a história... É preciso fazer tábua rasa do passado. A manipulação dos espíritos necessita de jovens “vazios”...
- O descarte mundial. «As pessoas já não são vistas como um valor primário a respeitar e tutelar, especialmente se são pobres ou deficientes, se “ainda não servem” (como os nascituros) ou “já não servem” (como os idosos).“
Formas de descarte são também o desemprego, o racismo, a escravatura...
- Vivemos com o conflito e o medo. As situações de violência – guerras, atentados, perseguições - vão-se «multiplicando cruelmente em muitas regiões do mundo, a ponto de assumir os contornos daquela que se poderia chamar uma “terceira guerra mundial aos pedaços”».
- Em relação à pandemia, diz Francisco: “rapidamente esquecemos as lições da história, «mestra da vida». Passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta.” O que já está a acontecer...
- Por fim, talvez o mais paradoxal de todos os motivos desta falta de amizade social seja a “ilusão da comunicação “.
Diz Francisco: “Nos media, tudo se torna uma espécie de espetáculo que pode ser espiado, observado, e a vida acaba exposta a um controle constante. Na comunicação digital, quer-se mostrar tudo, e cada indivíduo torna-se objeto de olhares que esquadrinham, desnudam e divulgam, muitas vezes anonimamente. Dilui-se o respeito pelo outro e, assim, ao mesmo tempo que o apago, ignoro e mantenho afastado, posso despudoradamente invadir até ao mais recôndito da sua vida. “
Até para a semana.
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