08/04/20

Consequências psicológicas do isolamento físico e social





É a primeira vez nas nossas vidas que passamos por uma crise de saúde desta dimensão e estamos todos a aprender como lidar com ela.
É inerente à natureza humana não saber que futuro será o nosso, porém, há sempre alguma previsibilidade espacial e temporal que facilitam o nosso comportamento adaptativo a essa incerteza.
A actual pandemia alterou esta perspectiva. Por um lado, gera ansiedade pelo confinamento espacial, o confinamento físico. Por outro, é também ansiogénica pela falta de confinamento temporal: não sabemos quando termina, não sabemos se vamos ser contagiados, ou familiares nossos, não sabemos as consequências do contágio, não sabemos como respondem as instituições de saúde, não sabemos quando haverá uma vacina ou medicamento eficaz, não sabemos se vamos continuar a ter emprego, não sabemos quando os filhos voltam à escola, não sabemos como fica a nossa família...

Mesmo para quem esteve em contextos stressantes, como situações de guerra, a actual pandemia é vivida de forma diferente e ultrapassa, também do ponto de vista psicológico, o que se pudesse imaginar.
Esta emergência pandémica veio confirmar que o aparecimento de “cisnes negros” negativos é cada vez mais frequente e podemos afirmar que vivemos, de facto, na “era da ansiedade”.
Também por isso, esta pandemia, embora inesperada, devia estar na previsibilidade dos radares dos dirigentes governativos, políticos e sociais, até pelos alertas e situações recentes, que deviam levar a identificar planos de contingência quando algo de semelhante, ou pior, viesse a acontecer.

Estamos em pleno impacto da situação sem sabermos muito bem como reagir e como controlar as emoções...
Cada família vive esta experiência de acordo com as suas diferenças e com as próprias estratégias... mas “estar isolado, em família, com crianças e/ou adolescentes é um desafio exigente...”, como refere a Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Como acontece para abordar qualquer problema psicológico podemos recorrer à psicologia do desenvolvimento para nos ajudar a lidar com os filhos. Mesmo em emergência, a nossa actuação tem que ter sempre em conta o estádio de desenvolvimento das crianças e dos adolescentes.
Numa situação de confinamento ou isolamento físico, e também social, apesar de amenizado pelas redes sociais e meios de comunicação, podem aparecer com mais facilidade, nas famílias com crianças ou adolescentes, tensões, conflitos e ansiedade.
Nos casos que já estavam a ser acompanhados devido a pertubações mentais graves como crises graves de ansiedade, perturbações obsessivo-compulsivas, ou depressões, será necessário ter atenção redobrada para que não haja risco de agravamento dessas perturbações.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses tem publicado vários documentos que nos sugerem algumas atitudes e comportamentos que podem ser adoptados nesta crise. São documentos acessíveis que podem ser consultados no site da Ordem.
“Os Pais/Cuidadores que têm disponibilidade para estar com os filhos todo o dia/ têm de aceitar que vai ser exigente (para todos!), e que será necessária uma dose reforçada de paciência, compreensão e criatividade para gerir o dia-a-dia em isolamento.
Os Pais/Cuidadores que estão em teletrabalho, têm ainda de aceitar que não conseguirão trabalhar o número de horas que trabalhariam numa situação normal e que a sua produtividade será menor (identifiquem prioridades e foquem-se nelas). A chave estará na forma como organizarem os momentos do dia.”

Na próxima semana, continuaremos a falar desta realidade tão brutal que nos atingiu a todos.










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