22/02/20

Não muda nada !

Planos

Para quem conhece cursivamente a história portuguesa do século XIX e do século XX, a crise em que estamos metidos não é novidade. De quando em quando, o País tem uma crise de nervos e resolve que se quer «modernizar». «Modernizar» significa, muito precisamente, «viver tão bem como na Europa». Mas, para «viver tão bem como na Europa», é preciso cumprir uma pequena formalidade: ganhar dinheiro, coisa que antigamente se chamava «fomento» e hoje se chama «desenvolvimento económico». As receitas para o «desenvolvimento» foram sempre duas. Primeiro, obras públicas (estradas, pontes, caminhos de ferro); e, a seguir, educação. Só que está ainda por provar a eficácia destas duas panaceias. Claro que as «modernizações» trouxeram algumas modestas melhorias. Em contrapartida, criaram, ou alargaram, uma classe média com uma camadinha de verniz «civilizado» e ambições na vida. E essa classe média, quando a «modernização» em curso afocinhou, não perdeu o seu legítimo apetite e bramiu contra os governos, que lhe anunciavam vacas magras. O Estado entrou, então, em cena, para directa ou indirectamente a sustentar e garantir o sossego da Pátria. Tirando Salazar (que tinha a PIDE), Portugal andou, por isso, à beira da falência (ou faliu mesmo), desde pelo menos 1834. Como agora, éramos famosos pelas nossas dívidas, pelo alto risco do nosso crédito, pela desorganização das nossas finanças, pela nossa inconcebível incapacidade administrativa e pela nossa luxuriante burocracia. No fundo, nada mudou, excepto a dimensão da classe média e a subordinação à paternal autoridade de Bruxelas. Há, aqui em casa, duas prateleiras de livros com planos maravilhosos para nos salvar desta velha praga. Nunca evidentemente esses planos passaram do papel.

Vasco Pulido Valente, "Planos", Crónica "Faz de conta", DN,  23-6-2001.

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