"Julgar que o computador serve para tudo é correr
ao encontro de decepções e de catástrofes sem precedentes. Julgar que o
computador não serve para nada, é renunciar a um arsenal de serviços a que
nenhum observador de boa fé contestará o valor. O maior perigo para o homem
será ceder ao seu temor pela máquina e começar a fugir, ao mesmo tempo, dos
benefícios da tecnologia.”
“O desordenador é perigoso: tende a
sobrevalorizar as estatísticas, as médias, as massas em detrimento do indivíduo
e dos seus sentimentos. A felicidade não é codificável.”
“Em caso algum um computador poderia ser ridículo.
Pelo contrário, em todos os casos, o homem torna-se ridículo quando destina uma
máquina a fins ridículos.”
"O desencanto cresce mais depressa que o
progresso. Após as delícias do possível, as brutalidades do real."
Continuam a ser
assim, as delícias e as brutalidades.
O computador trouxe enormes vantagens para a sociedade
mas a evolução da comunicação digital é de tal modo avassaladora em todas as
áreas da vida que, como seria de esperar, a mudança dos comportamentos das
pessoas faz-se com dificuldades, desfasamentos e estão à vista os desequilíbrios
de personalidade.
A internet cria uma "dinamização" da
personalidade que leva as pessoas a inclinarem-se para atitudes de maior risco e descontrolo
calculado. O "efeito de desinibição online" define
estas alterações comportamentais. (C. Nabuco)
Passámos, assim, a ter uma vida offline e uma vida online.
Vidas que coincidem ou que são completamente diferentes.
Alvin Toffler falava do homem modular. Conhecemos a
pessoa apenas em alguns aspectos, alguns módulos, da sua vida. Conhecemos,
p.ex., a pessoa no trabalho mas nada sabemos da sua vida familiar, das suas
origens, das suas amizades e intimidades...
Agora podemos acrescentar que nada conhecemos da sua
vida online mesmo quando se trata dos nossos filhos ou pais, nossos familiares,
amigos ou colegas de trabalho.
Então qual é a nossa realidade? A vida online será
mais real do que a vida offline? Os perfis falsos, os sites e blogues com
identidades falsas serão afinal mais verdadeiros relativamente à nossa personalidade? Acontece
que na vida online a
pessoa apresenta dimensões da sua personalidade que não suspeitávamos que
existissem. É muitas vezes na vida online que nos surpreendemos com os gostos, os
ódios, as ideias de uma pessoa que
manifestam o módulo mais profundo da sua realidade pessoal e de relação com os
outros.
Como compreender então os perfis falsos criados para esconder uma identidade falsa ou até usurpação de identidade ?
"Até setembro deste ano (2019), o Facebook fechou mais de 5,4 mil milhões de contas falsas criadas na rede social, um aumento de mais de 2 mil milhões de utilizadores face aos números do ano passado. De janeiro a dezembro de 2018 a empresa removeu da sua plataforma principal 3,3 mil milhões de utilizadores falsos, o que representa um aumento de 157%." (Record)
É que na nossa vida online (C. Nabuco) temos a “falsa percepção de que somos
anónimos e não há limites ou regras associadas ao comportamento online.
É um processo de "desindividualização", ou
seja, “um estado de dissipação da identidade real e que favorece o aparecimento
de maior grau de insubordinação, agressividade e sexualidade exacerbada, se
comparado ao que ocorre na vida concreta.” Portanto, o "efeito de desinibição online" desconstrói os
ambientes formais e mais rígidos da realidade concreta… tornando as pessoas
mais condescendentes e altamente plásticas em relação às transgressões”, passando a ter uma "personalidade eletrónica" (e-personality). (C. Nabuco)
A internet é um instrumento de informação e liberdade mas também de manipulação
e marketing, de propaganda e de ódio, que influencia a nossa vida e inferniza a de muitas pessoas. A internet
veio revelar varáveis da nossas personalidade. Veio mostrar a força da Sombra,
de Jung, arquétipo que revela o lado
escuro da nosso psiquismo, ou a força do nosso inconsciente, como dizia Freud. São estas forças
que mostram o que na realidade somos e que
determinam muitos dos nossos comportamentos.
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