Têm vindo a ser assinaladas divergências entre pais e professores sobre a escola. O
tempo de permanência dos alunos na escola é uma delas (estudo da Universidade Católica)
Por outro lado, devido aos casos de indisciplina e violência que têm acontecido nas escolas com mais
frequência* do que o habitual, talvez devido a maior visibilidade ou
à preocupação dos educadores, que dá relevo a este tipo de situações, transmite-se muitas vezes a ideia de que a família educa e a escola ensina ou instrui.
Não me parece que faça sentido esta separação sobretudo na
prática quotidiana da escola e da família.
Educar é função fundamental da
escola e não apenas da família. Além disso, para educar, escola e família não
são demais. Como diz o provérbio
africano: “é necessário toda a aldeia para educar uma criança”.
É certo que a família perdeu o monopólio da educação e
formação. Mas a família continua a fazer parte imprescindível da educação das
crianças juntamente com a escola.
Também há professores que têm a expectativa
de que os filhos sejam educados e venham educados
de casa, que saibam portar-se na sala de
aula, que saibam portar-se na à mesa, que sejam capazes de interagir com os colegas
sem encontrões, gritaria, correrias…
Partindo do princípio que a família deve ter um papel insubstituível a desempenhar na educação dos filhos, temos que nos interrogar sobre que família estamos a falar. A realidade mostra-nos uma família diferente do passado. Actualmente, na família, parece que já ninguém encontra o seu lugar.
Há muitas crianças que
não vivem em família mas em instituições. Há crianças que vivem em famílias
maltratantes e violentas e a exposição à violência física e psicológica faz
parte do seu quotidiano e da sua aprendizagem.
Há crianças que são abusadas sexualmente e sabemos que esse
abuso é maioritariamente dentro da família.
Há crianças que vivem em famílias disfuncionais em que os
pais não se entendem em relação ao essencial necessário aos filhos: o afecto.
Há crianças que vivem
com os avós ou outros parentes como recurso às dificuldades dos pais devido ao
trabalho, à emigração…
Há crianças que vivem divididas entre a casa do pai e a casa
da mãe e não são bem aceites num lado e no outro e muitas vezes são instrumentalizadas
para favorecer e tomarem o partido de um ou outro.
Há crianças que são filhas de pai incógnito (aqui e aqui), que era uma
coisa impensável depois do 25 de Abril.
Há crianças com dificuldades de toda a ordem…
Então quando dizemos que a criança vem educada de casa de
que estamos a falar? O professor não foi contratado para educar mas para ensinar e instruir?
O que fazemos quando há crianças que têm à sua disposição apenas as suas competências para fazerem frente à vida hostil ou de dificuldades em que vivem e para as quais é muitas vezes na escola que encontram algum afecto e compreensão para as suas necessidades?
O que fazemos quando há crianças que têm à sua disposição apenas as suas competências para fazerem frente à vida hostil ou de dificuldades em que vivem e para as quais é muitas vezes na escola que encontram algum afecto e compreensão para as suas necessidades?
As instituições educativas intervêm desde muito cedo na
escola. Muitas crianças passam grande parte da sua a vida desde pequenas na creche
e depois jardim de infância
Passam muito mais tempo na escola do que em família, ou seja, muitas aprendizagens
são realizadas na escola: autonomia pessoal como vestir-se, alimentar-se,
fazer a higiene, controlar esfíncteres, aprender a coordenação motora global e
fina, aprender a falar e comunicar, etc.
A aprendizagem da afectividade e da sexualidade, da
interacção com os outros, da moralidade, da participação na sociedade não são
apenas da família nem apenas da escola mas de toda a comunidade educativa.
Alem disso há que contar com as aprendizagens dos pares e dos media que
hoje têm à disposição como a internet.
Diez * descreve algumas formas de colaboração entre a família e a escola e dos aspectos mais específicos da escola ou da família. Já aqui escrevi sobre o assunto. Há uma educação específica dos pais e a escola deve desempenhar também uma educação específica nos diversos programas do currículo, mas há também aspectos comuns, e é sempre difícil estabelecer limites para a actuação de cada uma delas, como é o caso da
- Educação corporal,
- Educação intelectual,
- Educação da afectividade,
- Educação da expressão,
- Educação para a liberdade,
- Educação para a vida comunitária.
Mesmo que alguma destas áreas não faça parte do currículo formal não podem ser excluídas do currículo escolar, informal, ou oculto.
Escola e família, cada uma delas tem áreas específicas de actuação mas ambas educam e ambas ensinam. O sucesso educativo, a não violência e a disciplina, dependem desta colaboração.
_______________________________________* Diez, J.J., Familia – escola , uma relação vital, Porto editora, Porto, 1989.
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