31/07/18

Brincar, brinquedos e felicidade


Brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança nas diversas áreas da personalidade.
Noutra ocasião, dissemos que brincar, jogar, era uma actividade relacional, factor essencial ao desenvolvimento da personalidade.
Também dissemos que "jogo é o caminho para a conquista da autonomia da criança; "jogo é o écran do quotidiano, ou como entendia Anna Freud, jogo é o contributo para a realização de frustrações, de complexos, de insuficiências, de dificuldades de aprendizagem, de dificuldades relacionais, de reacções regressivas, de tendências agressivas e anti-sociais"

Quando era criança, os brinquedos eram escassos, e tinham que ser fabricados por nós próprios, pelos companheiros, pelos pais e havia brinquedos que todos podíamos ter: bola, bilharda, berlinde, pião... O Bonanza marcava pontos na TV e, na escola, jogávamos à bola ou aos cowboys... Os companheiros de jogo eram quase sempre os que viviam na mesma rua ou nas ruas próximas. A TV, a do café, da Casa do Povo ou do salão da paróquia...
Daqui
Quando, um dia me ofereceram um Borgward Isabella, lembro-me de ter ficado muito feliz…

Hoje não há semelhança com a diversidade de brinquedos, comprados, a imensa variedade de bonecos, de colecções, de jogos electrónicos, de DVD ou com as histórias fantásticas das séries da Netflix, embora, à mistura, haja muita treta de pedagogia duvidosa... e podemos não conhecer os companheiros de jogo.
Brincar, nem antigamente é que era bom pela escassez que aguçava o engenho, nem o é actualmente pela abundância em que pode tornar-se menos activo. Tanto num caso como no outro qualquer brinquedo pode estimular a criatividade, o desenvolvimento psicomotor, a imaginação, os sentidos, o pensamento, a inteligência, as emoções.
Na minha infância, brincar deixava-nos felizes, tal como vemos acontecer com as crianças deste tempo, o mesmo sentimento de felicidade.

Mas, na realidade o que fazia e faz mesmo felizes as crianças? Brincar é relação com o outro mas com os pais, em primeiro lugar.
Fico apreensivo quando, num inquérito de 2016, se fica a saber que os pais inventam desculpas para não brincarem com os filhos, devido ao trabalho. O estudo conclui que 74% dos pais portugueses acham difícil dizer aos filhos que não têm tempo para brincar com eles. (1)
Daqui

Noutro estudo, (Katya Delimbeuf, texto, Carlos Esteves, infografia) as respostas parecem apontar para aquilo que, de tão óbvio, se tende a esquecer: é no tempo passado com a família e nos momentos de brincadeira que as crianças encontram a felicidade.
No estudo, mais de metade dos pais (51,89%) acredita que a origem da felicidade dos filhos está no tempo passado com os pais e familiares, e 34,56% no tempo de brincadeira.
"O afecto ocupa um lugar-chave na felicidade dos mais novos: 33% defendem que é quando os filhos se sentem "ouvidos e queridos" que são mais felizes. Na mesma linha, 14% defendem que é fundamental reforçar a autoestima das crianças "elogiando-as e incentivando-as quando fazem algo bem."

Em 2013, um relatório da UNICEF  que servia para medir a felicidade e o bem-estar em 29 países, incluindo Portugal, concluía que as crianças mais felizes eram as holandesas. Porquê? "Primeiro, os bebés holandeses dormem mais horas; as crianças trazem poucos ou nenhuns trabalhos de casa na escola primária; a liberdade é incentivada desde cedo, podendo os miúdos ir sozinhos de bicicleta para a escola, ou brincar na rua sem supervisão; fazem refeições em família regularmente; passam mais tempo com os pais que nos outros países europeus; não têm uma cultura materialista — brincam com objetos em segunda mão; e, numa nota curiosa, comem cereais de chocolate ao pequeno-almoço."(2)
Neste estudo, Portugal encontrava-se a meio da tabela, no 15º lugar entre 29. Mas nem todas as razões das crianças holandesas parecem adequadas às nossas crianças, felizmente, como, p. ex., ir sozinho de bicicleta para a escola...

Enfim, o melhor presente que os pais podem oferecer aos filhos é estarem presentes, como aqui já dissemos, e brincar com eles é igualmente crucial. Como refere Mário Cordeiro "Os pais são, ainda, o brinquedo favorito do bebé" (O grande livro do bebé - O primeiro ano de vida, pg. 302. (3)

Nas férias não pode haver a desculpa do trabalho. Se houver essa tentação, desligue-se (4) do trabalho e brinque com os seus filhos que, pelos vistos, é a melhor maneira de eles serem felizes.
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1. O inquérito foi promovido pela marca de sumos TriNa para assinalar o Dia da Família. Foram inquiridos 410 pais de norte a sul do país, com filhos entre os seis e os 12 anos.
2. Estudo de uma marca de brinquedos (Imaginarium), que entrevistou 1131 pais portugueses de crianças dos 0 aos 8 anos.
3. Ver o Cap. 10 sobre "Brincar".
4. O direito a desligar-se. A discussão já chegou ao parlamento mas, enquanto não se decide, decida você.

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