28/06/17

Para um sistema de saúde


A saúde em Portugal tem melhorado. No entanto, não deixa de continuar a manifestar fragilidades e sintomas preocupantes por falta de respostas eficazes às necessidades da população.
Foi apresentado, a 28 de Junho, o relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), que  tem por base dados relativos a 2014 e 2015. (RTP, 28 Junho,  2017)
O relatório, que faz a avaliação geral do funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS),  tem um título sugestivo: “Viver em tempos incertos: sustentabilidade e equidade na saúde”. Partir do princípio da incerteza  pode ter grande vantagem para a prevenção.
Algumas conclusões do relatório não são novas e vêm sendo repetidas há bastante tempo, sem que haja melhorias. Assim:
- Para se manterem saudáveis, os portugueses gastam muito mais que a maioria dos europeus.  
- Agravamento de desigualdades no acesso à saúde; apesar das melhorias substanciais no estado de saúde da população portuguesa, "as desigualdades de género, geográficas/territoriais e socioeconómicas persistem".
- Mantêm-se as barreiras socioeconómicas no acesso a medicamentos e a consultas de especialidade, sobretudo em saúde oral e mental.  A “carência de serviços” estatais nestas duas especialidades é o principal motivo para esta falta de equidade.
 - Embora o consumo excessivo de antibióticos tenha decrescido entre 2004 e 2014, continua a ser elevado. 
- E, também já sabíamos, há “desilusão e descontentamento” crescentes dos profissionais de saúde.
  

Há alguns meses, outro  relatório, "Revisão do sistema de saúde", do Observatório europeu de políticas e sistemas de saúde, (Health System Review, HIT (Health Systems in Transition,  European Observatory on Health Systems and Policies), alertava para conclusões muito interessantes e importantes. (RelatórioInformação: Marta F. Reis, Sol ,28 de Abril.).

Um sistema deve integrar todas as políticas sectoriais. Ora segundo o relatório,  “falta saúde em todas as políticas,  “ministros não falam uns com os outros”, ou seja, não há coordenação interministerial (pelo menos) nesta área;  “… continua também a faltar o “cimento”: “o que outros países conseguiram fazer foi dar corpo à ideia de que a saúde deve estar presente em todas as políticas. Ambiente, Educação, Justiça, Agricultura devem ser cúmplices na promoção da saúde”.

A segunda conclusão é particularmente sensível, dado o envelhecimento da população. Os maus resultados do país no chamado envelhecimento saudável são um “falhanço coletivo”. Os portugueses são dos europeus que vivem menos tempo saudáveis depois dos 65 anos de idade.   (Jorge Simões, ex-presidente da Entidade Reguladora da Saúde e coordenador do estudo, Comissariado pelo Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde.)
Em 2014, os europeus contavam viver em média 8,6 anos de vida saudável depois dos 65 anos, tanto os homens como as mulheres. Em Portugal, o número de anos saudáveis depois dos 65 anos não vai além dos 5,6 anos no caso das mulheres e de 6,9 anos nos homens.(Eurostat)

O que falta, antes de mais, talvez seja, sem novidade nenhuma, maior investimento na promoção  e na prevenção da saúde, incluindo os outros sectores do estado,  de forma a que possamos ter, por ex.,  alimentação saudável, actividade física e, em geral, bem-estar (Seligman). 
Não há uma rede de cuidados continuados suficiente, assim como de cuidados paliativos.
O serviço nacional  de saúde é apenas uma parte  do sistema nacional de saúde. Enquanto não for criado um sistema que respeite as regras do sistema, dificilmente haverá melhorias significativas na saúde dos portugueses.

Desejo a todos umas férias com saúde. Até  Setembro.

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