Realizou-se,
esta semana, a cimeira
ibérica em que os governos de Portugal e de Espanha discutiram assuntos
comuns e de grande importância, suponho eu, para os dois países.
A
cooperação transfronteiriça parece ter sido o
grande assunto (pelo menos da agenda formal) nesta cimeira
ibérica. O objectivo para esta cooperação
transfronteiriça seria a transformação da interioridade em centralidade. É
óbvio que faz todo o sentido e o tema não é novo. Quem vive, por exemplo, em
Castelo Branco, sabe que nos deslocamos a Madrid tão facilmente como a Lisboa.
Mas
a notícia é preocupante quando refere que “A central nuclear de Almaraz, que
motivou uma manifestação com a participação d' «Os Verdes» e do BE, ficou de
fora da agenda da cimeira por, concluiu hoje António Costa, ser uma questão
discutida no passado e ter ficado «bem resolvida».
Na
verdade, não ficará bem resolvida, enquanto for adiado o “prazo de
validade “ da Central de Almaraz e enquanto existir.
Independentemente
de manifestações e de partidos que às vezes apenas servem para tirar
partido destas situações aproveitando-se dos sentimentos, preocupações e medos
das populações, depois de Chernobyl e Fukushima, em Lisboa ou em Madrid,
apercebem-se certamente de que este é o assunto mais importante a ser resolvido.*
A centralidade da interioridade é importante depois de resolvido um perigo potencialmente mortal que a central
de Almaraz significa para as pessoas e para o ambiente.
O
Tejo faz parte da nossa memória e da nossa cultura que só pode ser uma
cultura de vida: de Camões à poesia popular cantada num fado. O Tejo de Almeida
Garrett, de Pessoa, de Camões, de Alves Redol,
Gedeão, de Sophia, de Manuel da Fonseca, dos Madredeus, de Frederico de Brito, de
Amália…
"Pelo
Tejo vai-se para o Mundo" (Alberto Caeiro), e fomos para o mundo interpelados pelo velho do Restelo:
"Ó
gloria de mandar ó vã cobiça
desta
vaidade a que chamamos fama"
É o Tejo das ninfas a quem Camões pede inspiração para escrever Os Lusíadas
:
“E
vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes
em mi um novo engenho ardente …"
O Tejo espelho, do poema da
Memória, de António Gedeão
"Havia no meu tempo um rio chamado
Tejo
que se estendia ao Sol na linha
do horizonte.
Ia de ponta a ponta, e aos seus
olhos parecia
exactamente um espelho
porque, do que sabia,
só um espelho com isso se
parecia.”
O Tejo de Manuel da Fonseca:
“ Tejo que levas as águas
“ Tejo que levas as águas
Correndo de
par em par
Lava a cidade
de mágoas
Leva as mágoas
para o mar.”
O
Tejo cantado pelos Madredeus
"Tejo,
meu doce Tejo, corres assim;
corres
há milénios sem te arrepender,
és
a casa de água onde há poucos anos eu escolhi nascer.”
É
este Tejo, inspirador, e tão maltratado pelas poluições de toda a
espécie, ao longo dos anos, e ao longo do seu percurso de 875 quilómetros, que na nossa memória se revela em todo
o seu esplendor.
É
este Tejo que, em nome do descontrolado progresso económico, colocam em risco
de sofrer a pior ameaça ambiental: a ameaça radioactiva.
Será
isto uma questão “bem resolvida” ? “Ó glória de mandar , ó vã cobiça”!
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* "O ministro do Ambiente afirmou hoje que a decisão espanhola de prolongar por dois anos o prazo para uma decisão sobre o funcionamento das centrais nucleares dará tempo a Portugal e Espanha para discutir compromissos sobre ambiente e energia." (Notícias ao minuto, 31-5-2017, Lusa)
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* "O ministro do Ambiente afirmou hoje que a decisão espanhola de prolongar por dois anos o prazo para uma decisão sobre o funcionamento das centrais nucleares dará tempo a Portugal e Espanha para discutir compromissos sobre ambiente e energia." (Notícias ao minuto, 31-5-2017, Lusa)
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