10/05/17

A fé, por estes dias de Maio




A fé, por estes dias de Maio, está fortemente presente na vida de muitas pessoas. Elas falam da fé nas peregrinações que decidiram fazer percorrendo os caminhos de Fátima. Para a maioria dos peregrinos esta aventura é devida à fé, para alguns, talvez, apenas à ideia de peregrinar.
A fé não é uma coisa que se compre nas igrejas, ou que se adquira estudando nos livros sagrados, ou nos outros, ou tampouco se dissolva com o ateísmo.
A fé tem uma origem e desenvolve-se ao longo da nossa vida e não é a mesma coisa quando somos crianças ou adultos. Com propriedade ouvimos algumas pessoas dizer que "o importante é crescer na fé".

Para a psicologia do desenvolvimento, de facto, a fé vai-se construindo e vai crescendo à medida que também as outras capacidades da nossa vida, cognitiva, emocional, social e moral se vai desenvolvendo. Tem crises e conflitos e pode passar por dúvidas ou parar num determinado estádio.
Em 1981, James Fowler, psicólogo e teólogo, publicou o livro Estádios da Fé - psicologia do desenvolvimento humano e a busca de sentido.
A fé para Fowler é entendida como "religiosa ou não religiosa: uma pessoa pode ter fé num deus, na ciência, na humanidade ou numa causa à qual atribui valor fundamental". (Papalia, D. e Olds, S., Desenvolvimento Humano, 7ª ed, Artmed, p 386-387)
Os estádios da fé estão na linha de pensamento de Piaget, desenvolvimento cognitivo, Kohlberg, desenvolvimento moral, Erikson, desenvolvimento psicossocial, Levinson, estádios da vida adulta, e Selman, desenvolvimento social.
Até aos dois anos de idade a criança depende de outras pessoas, adquire a confiança básica, aprende a linguagem e a ter autonomia em alguns aspectos.
A partir dessa altura, a fé desenvolve-se de acordo com os seguintes estádios:
Estádio 1: fé intuitiva-projectiva (de 18-24 meses a 7 anos): a criança esforça-se por compreender as forças que controlam o mundo. As crianças têm imagens poderosas, imaginativas muitas vezes apavorantes e às vezes duradouras de Deus, do céu, do inferno. São imagens das histórias contadas pelos adultos ou que vêem ou lêem. São muitas vezes irracionais, onde realidade e fantasia se confundem.
Estádio 2: fé mítica-literal (7 a 12 anos): as crianças estão no estádio das operações concretas e estão mais lógicas, tendem a interpretar os símbolos e histórias religiosas literalmente, enquanto adoptam as crenças e costumes da sua família e comunidade. Elas acreditam que Deus é justo e as pessoas ganham o que merecem.
Estádio 3: fé sintética-convencional (adolescência ou posteriormente): O adolescente é capaz de raciocínio abstracto. À medida que busca a identidade procura um relacionamento mais pessoal com Deus. A sua identidade ainda não tem bases seguras e procura os outros em busca de autoridade moral. A sua fé não é questionada e conforma-se aos padrões da comunidade.
Estádio 4: fé individual-reflexiva (desde os 20 anos.): os adultos que atingem este estádio pós convencional têm uma fé crítica, subjectiva e pessoal, independentemente da autoridade externa e das normas do grupo.
Estádio 5: fé conjuntiva (meia-idade e depois): as pessoas tornam-se mais conscientes dos limites da razão. Conhecem os paradoxos e as contradições da vida e lutam com os  conflitos entre a satisfação dos seus próprios desejos e o sacrifício pelo outro .
Estádio 6: fé universal (terceira idade): Vai para além das culturas e credos. Estádio socialmente proactivo e propositivo de ideias que rompem com o estabelecido. Fowler coloca neste estádio líderes espirituais e morais como Gandi, Luther King, Madre Teresa... (Papalia, D. e Olds, S., Desenvolvimento Humano, 7ª ed, Artmed, p 386-387)

Nunca o mundo precisou tanto de pessoas com estes níveis de desenvolvimento da fé, de líderes simples, humanos e lúcidos, para quem a vida de uma só pessoa vale a luta pela paz.

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