06/04/17

Saúde e doença

O inestimável contributo de Freud e dos vários estudiosos do comportamento para compreender a vida psicológica do ser humano ajudou-nos a compreender a saúde e a doença em termos até então inéditos.
Conhecemos hoje melhor o funcionamento mental, os comportamentos das pessoas e, portanto, conhecemos melhor a sua saúde e doença.
Com António Damásio (“O Erro de Descartes”), percebemos como corpo e mente estão de tal modo relacionados que um não existe sem a outra deixando de fazer sentido a separação corpo e mente.
A unidade da psicologia não pode prescindir de nenhum factor. Na realidade o sofrimento psicológico e o sofrimento físico têm sempre subjacente factores biológicos e psicológicos.
Vivemos tempos em que esta realidade está bem patente na vida das pessoas. A saúde psicológica é cada vez mais relevante e levada a sério desde a infância até à velhice.
Com mais enfoque no biológico ou no social, desde há muitos anos tem vindo a ser promovida a "higiene mental" (João dos Santos) e com o desenvolvimento da psicologia ganhou relevo a psicologia escolar.
Vinda dos anos 90 do século passado, a psicologia positiva destaca como mais importante "promover a felicidade e o desenvolvimento de cada um". No entanto, o conceito de felicidade não é unívoco em todas as culturas e dentro da mesma cultura. O “hedonismo” "refere-se às emoções positivas e à noção de prazer", o “eudemonismo” "é o objectivo daqueles que aspiram a uma felicidade mais profunda que leva à realização de si e à procura de sentido." (le cercle psy, nº23, p. 32)
A psicologia positiva veio dar relevo à saúde mental e não apenas à doença mental. Para a OMS “a saúde mental positiva é um estado de bem-estar no qual a pessoa se pode realizar, ultrapassar as tensões normais da vida, ter um trabalho produtivo e frutuoso e contribuir para a vida da sua comunidade.” (p. 26)
Seligman, criador da psicologia positiva, definiu 5 pilares da felicidade e do bem-estar: emoções positivas, envolvimento, significado, relações positivas e realização pessoal. (A vida que floresce)
Muitos psicólogos trabalham nesta perspectiva, como no caso dos psicólogos do desenvolvimento e escolares, estudam os comportamentos normais da criança e propõem intervenções terapêuticas de forma a atingir esses padrões comportamentais.
Mas, definitivamente, a psicologia positiva veio dar o enfoque na perspectiva da saúde.

Portuguese Healthy Eating Plate

O mesmo se passa na medicina. Cada vez mais se trabalha na perspectiva de saúde de forma a que se possa viver sem doença. Hoje a preocupação é "trate da saúde antes da doença " como forma para "Chegar novo a velho." ( M. Pinto Coelho)
Somos inundados com todos os processos e métodos terapêuticos para mantermos a saúde e evitarmos a doença.
O nutricionismo e a alimentação ganharam grande importância e o retorno a conhecimentos ancestrais têm hoje relevo fundamental nas nossas vidas, como acontece com o chamado regime paleolítico.
A par da cozinha fast food, há um retorno a uma nutrição de qualidade relevando as características saudáveis dos alimentos.
Há também um regresso à filosofia, que felizmente se mantém como obrigatória nos currículos do secundário, ou a correntes filosóficas como o epicurismo e o estoicismo que ajudam a adoptar uma filosofia de vida e a dar sentido à vida.  Esta visão global do ser humano parece-me também ela saudável.
Desde Freud que o estudo do sofrimento humano era feito com base na compreensão do passado das pessoas.*  E isso continua a ser fundamental no conhecimento da pessoa e a dizer-nos muito do que a pessoa é e porque é.
Mas, como refere V. Frankl, a terapia está em perspectivar o futuro, na medida em que é o futuro que dá sentido à vida. Assim, passado e futuro fazem de nós seres humanos saudáveis, vivendo de forma plena a vida do nosso tempo.
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* P - "Ao contrário dos clássicos, está mais virado para o futuro?" R - "Aos alunos dizia que a psicanálise antiga era como o condutor que estava sempre a olhar pelo espelho retrovisor. Ora, eu quando vou na estrada tenho de olhar para a frente." Entrevista a António Coimbra de Matos: “Não é fácil amar, mas é bom. E se não se amar não se vive." (Expresso)

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