20/04/17

Férias ou pesadelo


As notícias foram mais ou menos assim: milhares de jovens foram expulsos de Espanha por mau comportamento ou comportamento indisciplinado em unidades hoteleiras onde passavam as férias da Páscoa.
Não quero culpar nem desculpar ninguém a começar pelos alunos envolvidos, pais e encarregados de educação, escolas, agências de viagens e organizadores, hotéis, forças de segurança, ongs, sistema de educação do país…
Todos têm os seus interesses neste assunto e, provavelmente, todos são responsáveis.
Para Françoise Dolto, "os jovens não são ajudados na nossa sociedade porque os ritos de passagem desapareceram. Ficaram reduzidos a eles próprios já não são conduzidos em conjunto e solidariamente duma margem a outra; é necessário que eles se deem a eles próprios este direito de passagem. Isto exige deles uma conduta de risco"(La cause des adolescents, Sinopse)
A adolescência é um período de fortes transformações numa sociedade, ela própria, em transformação, guerras, fugas , suicídios, droga, insucesso escolar…
Quando as estruturas que disponibilizamos para os jovens são as primeiras a criarem um ambiente pouco saudável do ponto de vista emocional, o risco transforma-se facilmente em perigo.
Há, na sociedade, de facto um conjunto de eventos dirigidos aos jovens que revelam alguns desses riscos. Alguns já bem antigos e desde sempre aberrantes, como a praxe, e outros mais actuais como este tipo de férias, igualmente perturbadores.
Estas viagens (spring break), ditas de finalistas mas onde outros podem participar, mesmo aqueles que se tornam repetentes da experiência, alguns também repetentes do secundário, durante vários anos, são férias descritas pelos promotores como “as melhores ferias da tua vida” que, como sabemos, nalguns casos, se têm transformado nos maiores pesadelos da tua vida.
Não conhecemos a dimensão do fenómeno. Sabemos que são vários milhares de jovens mas que não se pode falar das ocorrências destes eventos como fazendo parte de um padrão do comportamento dos jovens. Não são, de todo, características comportamentais dos jovens mas há alguns jovens que têm estes comportamentos.
Ao propor-se um "programa" do tipo laissez-faire faz-se sobressair, facilmente, os elementos patológicos pessoais e grupais.
Durante vários anos, fui presidente da associação de pais de uma escola secundária. Em determinada altura, colocou-se a questão  das férias da Páscoa, em Espanha. Não acreditava, como hoje não acredito, que os riscos sejam calculados e que este tipo de eventos tivesse algum interesse cultural ou turístico mas apenas como uma vivência de grupo em que são testados alguns limites, facilitada pela ausência dos constrangimentos parentais directos, dos constrangimentos comunitários, pois se encontram numa  comunidade desconhecida, e dos constrangimentos escolares.
São actividades em que as escolas não estão envolvidas e não se pronunciam, mas de que os pais não se podiam nem podem demitir, como é óbvio, porque os pais nunca fazem férias de pais, ao contrário do que acontece com a escola.
Em reunião com pais e organizadores, até foi apresentado um programa onde as actividades de interesse cultural, de estudo ou devidamente estruturadas praticamente não existiam mas o "tempo livre" era o ponto forte do programa. Ou seja, a desestruturação de um programa só podia acrescentar mais risco onde ele já existia.
"O universo dos 10-16 anos (diria o 2º/3º ciclos e o ensino secundário), é talvez a última oportunidade para dar a palavra aos jovens que a não têm e introduzir no sistema de educação, em falência, uma educação para o amor e para o respeito do outro e de si próprio." (idem)


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