08/02/17

Incerteza, ansiedade e o sentido da vida

A incerteza está sempre presenta na nossa vida. Por falta ou por excesso de informação, como nos dias de hoje, os acontecimentos políticos e sociais exercem maior influência na nossa vida psicológica 
As perturbações de ansiedade podem desenvolver-se a partir de um conjunto de factores de risco biológico, de personalidade e também da incerteza que envolve os acontecimentos da vida (life events). A dificuldade em tolerar a incerteza favorece o aparecimento da ansiedade.
É, por isso, que se recorre a defesas como a racionalização e a negação da incerteza que leva as pessoas a quererem saber o seu futuro: o que vai acontecer à sua relação, ao seu dinheiro, o que vai acontecer aos filhos… Têm necessidade de saber o que dizem as cartas ou procuram outras formas de adivinhar o futuro, pensando reduzir a incerteza na sua vida.
No entanto, continuamos sem poder de controlo nestas situações. E, desde logo, a ansiedade e o sofrimento podem ser reduzidos se deixarmos de querer saber e de controlar o futuro.
Há muitos anos, Epicteto, filósofo grego, que foi levado para Roma, ainda jovem, como escravo, fazia a distinção entre aquilo que é da nossa responsabilidade e o que não é. O problema é que queremos controlar aquilo que não tem a ver connosco e não está na nossa mão poder resolver.
Dizia Epicteto: “Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo , o impulso , o desejo , a repulsa – em suma: tudo quanto seja acção nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja acção nossa. 
Por natureza, as coisas que são encargos nossos são livres, desobstruídas, sem entraves. As que não são encargos nossos são débeis, escravas, obstruídas, de outrem.” (O Encheirídion de Epicteto)
Todos passamos por crises existenciais em que questionamos o sentido da vida. 
São crises provocadas por eventos importantes da vida, como casamento, divórcio, perdas pela morte de familiares, acidentes, relações familiares difíceis, crises da idade: adolescência, meia idade, velhice.
Viktor Frankl, médico psiquiatra, diz-nos, pela sua experiência, que “nos campos de concentração os mais aptos a sobreviver eram os que tinham uma tarefa a cumprir após a sua libertação.” “Apenas o sentimento
de ter uma missão, uma “vocação” a realizar dá sentido à vida, mesmo nos momentos de maior desespero”.
("Les psys face à la question existentielle")
“Há três caminhos principais através dos quais se pode chegar ao sentido na vida. O primeiro consiste em criar um trabalho ou fazer uma acção. O segundo está em experimentar algo ou encontrar alguém; em outras palavras, o sentido pode ser encontrado não só no trabalho, mas também no amor”
“O mais importante, no entanto, é o terceiro caminho para o sentido na vida: mesmo uma vítima sem recursos, numa situação sem esperança, enfrentando um destino que não pode mudar, pode erguer-se acima de si mesma, crescer para além de si mesma e, assim, mudar-se a si mesma. Pode transformar a tragédia pessoal em triunfo. “(Viktor E. Frankl, Em busca de sentido - Um psicólogo no campo de concentração)
Ter um sentido na vida é fundamental para ultrapassar o sofrimento que resulta da incerteza e da ansiedade.

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