A semana passada descrevemos alguns estudos psicológicos sobre comportamentos anti-sociais e cruéis.
Não podemos deixar de referir os trabalhos de Hanna e António Damásio sobre
este assunto.
Nos casos de adolescentes estudados
por Hanna Damásio em que houve
lesões cerebrais na infância, “ao contrário do que acontece com os doentes em
que a lesão aparece na idade adulta, estes doentes têm frequentemente, problemas com as
autoridades, são presos por roubos e por outros casos de delinquência. O perfil
neuropsicológico é basicamente idêntico ao dos doentes em que a lesão começa na
idade adulta (os testes psicológicos são normais) mas as emoções são anormais"... A diferença aparece
nos testes que medem o comportamento social, (juízo moral ), "o que se passa com os indivíduos que tiveram uma lesão
durante a infância nunca ultrapassa o nível pré-convencional (compreendem
apenas a punição e obediência, interesses, nível de crianças com menos de 9 anos) e são portanto claramente anormais."(p.28)
Para Hanna Damásio “uma lesão cerebral, colocada em certos sectores, leva em
adultos até então normais, à ruptura do comportamento social normal. Essas
mesmas lesões, mas adquiridas na infância, impedem o desenvolvimento de
comportamentos sociais normais, nunca existem. Tanto nos adultos, como nas
crianças, o problema parece dever-se a um defeito de processos emocionais.” (p.28)
Por exemplo, “…os sistemas podem funcionar mal devido a defeitos de
desenvolvimento… de causa genética, ou serem devidos a um ambiente afectivo
deficitário. O ambiente afectivo deficitário, pode tomar várias formas, desde o abandono da criança, à violência
física ou cultural, e a deficiências nutritivas.”(p 28)
Para António Damásio, as emoções são vistas num quadro
complexo de regulação da vida, com muitos níveis, que começa com a regulação de
nível metabólico com reflexos básicos e
respostas imunitárias . A vida , de um modo geral, é regulada primeiro por
formas inteiramente automáticas mas que são de facto transmitidas pelo genoma e
depois por formas que podem ser deliberadas.
Outros níveis são: Comportamentos
de dor e prazer, Pulsões e motivações, Emoções.
No topo das emoções estão as emoções sociais.
"Para além das emoções
básicas tais como o medo ou a zanga, a tristeza ou alegria existem emoções
sociais p. ex. a simpatia e a compaixão", Damásio fala de “estimulo emocionalmente competente” (EEC) para desencadear essas emoções. "No caso da
simpatia e compaixão o EEC é o sofrimento
do outro individuo. O sentimento que se lhe segue é o que tem como consequência o conforto e o
re-equilíbrio do outro ou do grupo. (p. 34)
Para António Damásio aquilo
que chamamos comportamento ético e aquilo que
é, de facto, o foco do debate de hoje, em relação ao Bem e ao Mal, é não
só o resultado da riqueza que o genoma nos dá mas sim, também, o resultado da
enorme capacidade de termos sentimentos
em relação às emoções.” (p. 36)
“É esta descoberta (que é
a de que de que outro individuo pode também
sofrer) que nos leva à verdadeira
empatia aquilo que nos leva a pensar não
só no nosso sofrimento e na nossa própria alegria mas também no sofrimento e
na alegria do outro e dos outros e, gradualmente, alargar esse reconhecimento não
só ao nosso grupo estrito, o próprio e o grupo familiar mas também a um grupo
muito mais alargado que no seu ideal, atinge a humanidade inteira.” (p. 37)
Então os dados da
investigação chamam a atenção para a forma como encaramos alguns comportamentos anti-sociais e cruéis mas também para a melhor forma de compreendermos as
nossas emoções e expressarmos sentimentos resultantes. Ou seja sobre a
melhor forma de nos comportarmos e educarmos as crianças.
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* O Suplemento Especial do Boletim OA
(Ordem dos Advogados), nº 29, é dedicado à conferência "O cérebro entre o
bem e o mal" (28-10-2003). Dos artigos destaco as comunicações de Hanna Damásio: “O cérebro
e as alterações do comportamento social” e António Damásio: “A neurobiologia da
Ética: sob o signo de Espinosa”.
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