27/11/16

A definição de um ditador

1. "Um ditador é um ditador. Ponto final, parágrafo.
"O balanço de quase 57 anos de castrismo é trágico. Inimigo das liberdades, apenas ofereceu ao povo uma pobreza resignada. Por isso, é intolerável a duplicidade moral com que avalia o legado de Fidel.
Há muito que Fidel Castro não era uma figura deste tempo. Não por estar doente e afastado do poder, que passara ao irmão, mas por representar uma utopia há muito desacreditada, a utopia marxista-leninista, e a mais trágica das ilusões do século passado, a ilusão comunista." (Observador27/11/2016, José Manuel Fernandes) 

2. Creio que o Presidente Marcelo também definiu bem o  que é um ditador: "Tem aquele estilo muito intenso... porque as pessoas não vão lá para falar, vão para ouvir."

3.  "DITADURA - Do latim «dictatura»: o domínio absoluto um individuo ou de um grupo mesmo contra a vontade e sem o consentimento dos governados. O termo data dos tempos da república de Roma...
O que caracteriza a ditadura é o poder ilimitado e incontrolado. O ditador mantém o domínio sobre o poder executivo (o governo), o poder legislativo (assembleia nacional) e o poder judicial (os tribunais). Por outro lado, não há qualquer órgão de controle do poder do ditador; este não é julgado por ninguém e julga tudo e todos. Geralmente e, pelo que se acabou de dizer, uma ditadura só pela força, uma vez que não admite eleições e, quando as admite controla devidamente os votos; nem admite críticas eliminando-as pela censura e pelas prisões. Uma ditadura pode ter origem na ambição desmedida de um homem que consegue iludir o povo, ou no interesse de um ou mas grupos que impõem ou dão apoio a um ditador para melhor garantirem os seu privilégios. Muitas vezes, estes dois aspecto andam ligados. (Cartilha política do povo, p. 40)

4. «Os julgamentos tinham lugar, noite após noite, para lá dos muros da fortaleza. A partir das oito ou nove horas, os tribunais reuniam-se, quase exclusivamente ocupados por juízes leigos; à sua frente o contabilista de 21 anos de idade, Orlando Borrego, que Che promoveu a presidente do tribunal...
"Relativamente ao papel que Che representou nas execuções de La Cabaña, existem opiniões contraditórias. Alguns biógrafos da oposição, que vivem no exílio, relatam que o argentino gostava dos rituais dos pelotões de fuzilamento e que os organizava com prazer. No entanto, admitem que as ordens vinham de Fidel Castro. Outros relatam que Che terá sofrido com todas as execuções e que amnistiava tantos prisioneiros quanto possível, apesar de não hesitar em executar as ordens que considerava justificadas."» (Frank Niess, Che Guevara, Editorial Sol90, p. 57-58).

5.  "Fidel Castro era um populista e demagogo, ficando os seus discursos longos, ocos e enfadonhos como um dos exemplos mais evidentes disso. O seu ego era mais importante do que o tempo e a paciência dos ouvintes.
É verdade que ele e um grupo de barbudos derrubou a ditadura odiosa de Fulgêncio Batista, mas não é menos verdade que ele impôs uma ditadura igual ou pior, porque as ditaduras não são boas quando são de esquerda e más quando são de direita. Ditadura é ditadura e o resto é demagogia.
O regime de Fidel matou milhares no seu próprio país, muitos mais do que Pinochet ou Salazar, mas se a esses juntarmos as vítimas da “ajuda internacionalista” a Angola, Etiópia, etc., etc., ele talvez roube a palma da crueldade a Francisco Franco ou a outras figuras odiosas da direita. Por isso, deve-se fazer um minuto de silêncio não pelo carrasco, mas pelas vítimas." (José Milhazes, "Fidel Castro: não são erros, mas crimes!)

6. "Fidel e Raúl criaram os tristemente famosos campos de reabilitação UMAP, de trabalhos forçados e tortura onde eram internados os chamados «aberrantes». Aqui, foram internados milhares de «marginais», entre os quais padres, como o arcebispo de Havana D. Jaime Ortega. Nestes tristemente famosos UMAP, foram internados todos os homossexuais denunciados para sua reeducação até acabar com «os maus vícios» que propagavam. Estes presos foram usados ao longo de décadas como mão de obra em trabalhos forçados, para construir cadeias, universidades e numerosas obras públicas. Em Cuba, como na Rússia estalinista, ou na China da Revolução Cultural.
Todos foram ao longo dos anos da longa ditadura comunista apanhados ou denunciados pela polícia política, conhecida em Havana pela Gestapo Vermelha, ou entregues pelos informadores que no ano 2000 eram cerca de 50.000 pessoas. Desde 1959 mais de 100 mil cubanos conheceram os campos, as prisões ou as frentes abertas. Entre 15000 e 17000 pessoas foram fuziladas («Livro Negro do Comunismo», coord. Stephan Courtois, Quetzal).
No fim da guerra de Angola, o comandante dos cubanos que regressaram (estiveram em nome do comunismo internacional ajudando o MPLA, como é sabido), o general Ochoa Sánchez, foi acusado de narcotraficante. Companheiro de Fidel, ele que vinha da Sierra e combatera na «Baía dos Porcos», foi fuzilado com mais outros três oficiais do exército cubano acusado de organizar um complot para afastar El Comandante.
Como em todos os regimes ditatoriais estalinistas a esquerda, ou alguma esquerda, considerou sempre que o comunismo e seus dirigentes não podem nem devem ser responsabilizados pelos crimes cometidos. São crimes diferentes, são vítimas legitimadas pela justeza dos ideais propagados, são desvios da doutrina, são contrarrevolucionários, são para esquecer, resumindo numa palavra: justificáveis. É politicamente incorrecto dizer que as vítimas de Pinochet são iguais às de Fidel Castro." (Zita Seabra, "Não apaguem a memória", Observador, 29/11/2016)

7. “Espero que essa morte abra um período de abertura, tolerância, democratização em Cuba. A história fará um balanço destes 55 anos que acabam agora com a morte do ditador cubano. Ele disse que a história o absolverá. E eu tenho certeza que a história não absolverá Fidel”. Vargas Llosa, El País , 28-11-2016.


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