"As pessoas estão dentro do fluir do tempo como estão dentro da sua própria pele sem poderem fugir dela." (P. Varela)
O ser humano vive nas dimensões do espaço e do tempo e é influenciado por elas. Podemos ter alguma escolha em relação ao espaço mas em relação ao tempo ainda não somos capazes de o influenciar.
Dentro de certas limitações podemos escolher a cidade ou a casa onde vivemos. No entanto, não podemos parar o desenvolvimento ao longo do tempo e ficarmos crianças para sempre...
O espaço de vida não se limita à situação presente mas inclui o passado, presente e futuro e o que nós somos depende desta perspectiva total. *
A psicologia refere alguns aspectos em relação ao tempo: A adaptação ao tempo, a percepção do tempo e o conhecimento do tempo.
Pressa, calma, atraso, pontualidade, madrugar, deitar tarde ou cedo, etc. são aspectos que temos que resolver com o nosso tempo. A nossa fisiologia tem que se adaptar ao tempo: horas, mudança da hora, ciclos dia-noite, estações do ano, luz, temperatura…
Nem sempre o tempo do relógio está de acordo com o tempo do organismo e ai surgem os problemas fisiológicos e mentais. As mudanças de estação do ano influenciam o humor e a ansiedade nas pessoas (Perturbação afectiva sazonal - DSM).
A percepção do tempo é a vivência pessoal do tempo ou o tempo subjectivo. O tempo é mais lento quando esperamos ser atendidos no hospital e passa muito depressa quando estamos com a pessoa que amamos ou com os amigos.
A lentidão tem a ver com a monotonia e ausência de mudanças na nossa vida. Daí a necessidade de luta pelo estímulo de que já falámos aqui.
As pessoas com stress passam a vida numa correria contra o tempo e nunca têm tempo para nada. Os ansiosos tendem a viver antecipadamente aquilo que pensam que os ameaça nos momentos ou horas seguintes. Os procrastinadores, isto é, os que “deixam para o dia seguinte o que podem fazer hoje”, não sabem organizar o tempo e tem dificuldade em tomar decisões.
O conhecimento do tempo é o modo como viajamos no tempo, a atitude perante a passagem do tempo. "O amanhã é uma dimensão exclusivamente humana que não existe para os animais."(P.Varela)
A passagem do tempo pode ser vivido com optimismo e pessimismo. O que geralmente distingue estas duas atitudes são as motivações as aspirações e os projectos
Há pessoas que têm uma perspectiva temporal de futuro longa, são pessoas que possuem autoestima positiva, bons níveis de aspiração e rendimento. Podem não ser os mais jovens.
Outras pessoas não. Ficava apreensivo quando na consulta, alguns jovens não queriam saber do futuro, “não me falem de futuro”, diziam às vezes, o que significava muitas dificuldades em relação à orientação escolar e profissional.
A perspectiva temporal de futuro longa, a chave do sentido do tempo não está na idade, no poder de compra ou no género, depende mais do nível educativo médio ou alto e da companhia e carinho de alguém que nos pode fazer pensar que a vida vale a pena.
O tempo é um bem escasso e é por isso que temos sempre falta dele. Lidamos mal com o tempo, ou com stress ou com aborrecimento. Mas o tempo, de certeza, que nos reserva ainda surpresas agradáveis e podemos sempre reviver as recordações felizes.
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Pilar Varela, Ansiosa-mente, A Esfera dos Livros.
Maxime Morsa, "Quelques choses à retenir du temps qui passe", le cercle psy, nº 15
J. Nuttin, Motivation et perspective d'avenir, Leuven, Presses Universitaires de Louvain.
M. R. L. Oliva Teles, Perspetiva Temporal de Futuro, InstrumentalidadeEscolar e Estratégias de Estudo numa Amostra de Estudantes Brasileiros e Portugueses, Dissertação de Mestrado em Psicologia da Educação.
Patricia Martinez Uribe, Perspectiva temporal futura y satisfaccion con la vida a lo largo del ciclo vital, Tesis doctoral.
* Investigação de Zimbardo: "a representação concreta do presente reside entre a construção psicológica do passado e antecipação de acontecimentos futuros ... É a predominância de um registo que permite diferenciar os indivíduos e os grupos, assim como as condutas, em função de uma situação precisa". É também o que explica os resultados na experiência marshmallow (Walter Mischel), M. Morsa, pag. 85-86.
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