06/05/15

Viver o nosso tempo



"As pessoas estão dentro do fluir do tempo como estão dentro da sua própria pele sem poderem fugir dela." (P. Varela)
O ser humano vive nas dimensões do espaço e do tempo e é influenciado por elas. Podemos ter alguma escolha em relação ao espaço mas em relação ao tempo ainda não somos capazes de o influenciar.
Dentro de certas limitações podemos escolher a cidade ou a casa onde vivemos. No entanto, não podemos parar o desenvolvimento ao longo do tempo e ficarmos crianças para sempre...
O espaço de vida não se limita à situação presente mas inclui o passado, presente e futuro e o que nós somos depende desta perspectiva total. *

A psicologia refere alguns aspectos em relação ao tempo: A adaptação ao tempo, a percepção do tempo e o conhecimento do tempo.

Pressa, calma, atraso, pontualidade, madrugar, deitar tarde ou cedo, etc. são aspectos que temos que resolver com o nosso tempo. A nossa fisiologia tem que se adaptar ao tempo: horas, mudança da hora, ciclos dia-noite, estações do ano, luz, temperatura…
Nem sempre o tempo do relógio está de acordo com o tempo do organismo e ai surgem os problemas fisiológicos e mentais. As mudanças de estação do ano influenciam o humor e a ansiedade nas pessoas (Perturbação afectiva sazonal - DSM).

A percepção do tempo é a vivência pessoal do tempo ou o tempo subjectivo. O tempo é mais lento quando esperamos ser atendidos no hospital e passa muito depressa quando estamos com a pessoa que amamos ou com os amigos.
A lentidão tem a ver com a monotonia e ausência de mudanças na nossa vida. Daí a necessidade de luta pelo estímulo de que já falámos aqui.
As pessoas com stress passam a vida numa correria contra o tempo e nunca têm tempo para nada. Os ansiosos tendem a viver antecipadamente aquilo que pensam que os ameaça nos momentos ou horas seguintes. Os procrastinadores, isto é, os que “deixam para o dia seguinte o que podem fazer hoje”, não sabem organizar o tempo e tem dificuldade em tomar decisões.

O conhecimento do tempo é o modo como viajamos no tempo, a atitude perante a passagem do tempo. "O amanhã é uma dimensão exclusivamente humana que não existe para os animais."(P.Varela)
A passagem do tempo pode ser vivido com optimismo e pessimismo. O que geralmente distingue estas duas atitudes são as motivações as aspirações e os projectos 
Há pessoas que têm uma perspectiva temporal de futuro longa, são pessoas que possuem autoestima positiva, bons níveis de aspiração e rendimento. Podem não ser os mais jovens.
Outras pessoas não. Ficava apreensivo quando na consulta, alguns jovens não queriam saber do futuro, “não me falem de futuro”, diziam às vezes, o que significava muitas dificuldades em relação à orientação escolar e profissional.
A perspectiva temporal de futuro longa, a chave do sentido do tempo não está na idade, no poder de compra ou no género, depende mais do nível educativo médio ou alto e da companhia e carinho de alguém que nos pode fazer pensar que a vida vale a pena.
O tempo é um bem escasso e é por isso que temos sempre falta dele. Lidamos mal com o tempo, ou com stress ou com aborrecimento. Mas o tempo, de certeza, que nos reserva ainda surpresas agradáveis e podemos sempre reviver as recordações felizes.
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Pilar Varela, Ansiosa-mente, A Esfera dos Livros.
Maxime Morsa, "Quelques choses à retenir du temps qui passe", le cercle psy, nº 15
J. Nuttin, Motivation et perspective d'avenir, Leuven, Presses Universitaires de Louvain.

* Investigação de Zimbardo: "a representação concreta do presente reside entre a construção psicológica do passado e antecipação de acontecimentos futuros ... É a predominância de um registo que permite diferenciar os indivíduos e os grupos, assim como as condutas, em função de uma situação precisa". É também o que explica os resultados na experiência marshmallow (Walter Mischel), M. Morsa, pag. 85-86.


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