Nunca se está preparado para envelhecer. Como diz Sobrinho Simões "é muito, muito chato, envelhecer".(entrevista a Inês Meneses, Expresso,18/4/2015).
Mas, se é uma realidade a que não podemos escapar, podemos envelhecer bem sem necessidade de nos enganarmos a nós próprios (Psychologies - Bien vieillir - Sans se mentir, nº 350, Avril, 2015).
Envelhecer não significa reformar-se. Obviamente que as pessoas vão arranjando defesas para lidarem com o esforço que é pedido quando o corpo já vai apresentando algumas debilidades mas não há uma idade para isso que, como se sabe, pode ser aos 50 anos para algumas pessoas mas para outras será aos 60 ou 70 anos.
Há algum tempo, quando a vida era mais linear, falava-se em cursos de preparação para a reforma. Agora de um momento para o outro tomamos, ou tomam por nós, a decisão de passarmos à reforma e de uma forma ou outra "dizem-nos" que o nosso tempo na empresa chegou ao fim.
Na internet há muitos sítios onde podemos pesquisar conselhos úteis sobre a preparação para a reforma mas cada um de nós é que sabe exactamente o que se passa consigo.
Como em outros períodos da vida, como a adolescência, há grandes alterações a nível biológico, social, psicológico, espiritual e estes factores devem ser considerados no processo de reforma.
Chama-se vida activa à vida de trabalho mas creio que não é aceitável chamar-se vida passiva ao período após o trabalho.
A transição entre estes dois períodos da vida não devia ser tratada de forma tão ligeira. Bem sei que a preocupação principal é a da sustentabilidade do sistema de pensões para a qual há muitas propostas mas de que todos desconfiam, temendo um futuro onde tudo seja pior.
No entanto, para além do problema financeiro, da necessidade de racionalização de quadros de pessoal, de rejuvenescimento dos trabalhadores e dos dirigentes, há outros factores igualmente importantes para que o processo de reforma se possa fazer com formas de transição mais suaves e pacíficas, em que tanto os trabalhadores como as empresas podiam ficar a ganhar.
A primeira questão a colocar é saber se é melhor a pessoa reformar-se ou se é melhor continuar a trabalhar.
E, de facto, alguns trabalhadores querem trabalhar até mais tarde e não estão a aceitar as propostas de reforma vindas das administrações das empresas porque estão motivados, gostam do trabalho que fazem e estão aptos para continuarem no seu posto de trabalho.
Anne Tergesen, A Guide to Not Retiring, March 15, 2015, Wall Street Journal
Hoje é tudo mais descartável e a cultura organizacional pouco importa. A reforma chega e ponto final. Nos serviços públicos não há sobreposição de períodos de transição entre a entrada de um novo técnico e a saída do técnico experiente. Mas devia haver.
Alguns países adoptam formas de transição interessantes como o trabalho a tempo parcial. Temos aí uma promessa eleitoral de “um programa “ambicioso” de reformas a tempo parcial com a condição de contratação de jovens desempregados”.
Outra forma de transição seria a criação de carreiras em que após um trabalho mais activo se pudesse dar oportunidade a um trabalho mais reflexivo, a actividades de formação-acção ou de supervisão, não necessariamente de chefia, em todas as profissões, mas em algumas isso é mais óbvio, como é o caso de alguns professores de educação física.
Aprender a envelhecer começa pela avaliação dos factores e das consequências implicadas na decisão de se reformar.
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