D. Morris escreveu há alguns anos (1969, trad. port. 1971) "O Zoo Humano". Um dos capítulos mais interessantes tem como título “A luta pelo estímulo” (pags. 206-255).
“Quando um homem se aproxima da reforma sonha muitas vezes poder calmamente sentar-se ao sol.
Repousando-se descontraidamente tem esperanças de gozar longos anos de vida. Se consegue realizar o sonho de se sentar ao sol pode ter a certeza de uma coisa: em vez de prolongar a vida, encurtá-la-á. A razão é simples - ele desistiu da Luta pelo Estímulo…
“ O objectivo desta luta é obter do meio ambiente a quantidade óptima de estimulação. Isto não quer dizer a quantidade máxima. Pode ser-se hiperestimulado ou hipoestimulado. O óptimo (ou média feliz) encontra-se situado entre aqueles dois extremos."
Morris estabelece um paralelismo entre o que se passa no recinto zoológico com o que se passa no recinto antropológico. Apresenta as várias formas de luta pelo estímulo:
- Se a estimulação é muito fraca pode aumentar-se o rendimento comportamental:
1. criando problemas desnecessários que podem em seguida resolver-se.
Trabalhamos cada vez mais e por isso queixamo-nos de cansaço. E o tempo que nos sobra serve para termos actividades que nos cansam ainda mais. A discoteca é um exemplo. Inventamos imensas máquinas que nos ajudam na cozinha ou no trabalho mas mesmo assim inventamos novas actividades.
Actualmente vemos telenovelas que nos cansam mesmo sentados, as intrigas da internet e das redes sociais ocupam a vida emocional de muitas pessoas.
2. reagindo exageradamente a um estímulo normal.
Algumas formas desta reacção são a alimentação exagerada, a obesidade, ficamos com os nervos em franja com descargas psicomotoras que nos fazem roer as unhas, matamos o tempo a fumar ou a beber com os amigos.
3. inventando novas actividades.
Este é o campo da criatividade. As pessoas dedicam-se às artes, à filosofia, à ciência.
4. executando respostas normais perante estímulos subnormais.
Este é o princípio do excesso. Os animais adaptam-se a relacionamentos com outros animais que no mundo natural seriam fonte de alimento, vemos gatos a brincar com peixes, cães dormem com gatos…
Na esfera sexual, provavelmente, temos as cinquenta sombras de Grey.
5. ampliando artificialmente certos estímulos seleccionados.
Fazemos a comida mais condimentada; a moda é cada vez mais extravagante, Lady Gaga não desmerece deste princípio.
As plásticas em determinadas zonas do corpo, aumentado ou diminuindo; as pernas devem parecer longas, os perfumes devem ter um efeito sedutor e uma pele bronzeada faz-nos mais felizes.
A lei do deslocamento das zonas erotogéneas diz respeito à forma como a concentração sobre uma zona é substituída pela concentração sobre outra zona, à medida que o tempo passa e a moda muda.
Sobem as saias sobem os decotes ou o contrário. A moda masculina também muda, usa-se roupa mais desportiva, põe-se gravata, tira-se gravata…
- Se a estimulação é forte de mais pode aumentar-se o rendimento comportamental:
6. aumentando a responsividade às sensações recebidas.
Este é o princípio do corte. Perante a imensidade de estímulos precisamos de cortar com eles. Deixamos de ver televisão, não lemos jornais, precisamos de dormir, às vezes precisamos de ajudas artificiais, de tranquilizantes... Acima de tudo precisamos de dormir para sonhar.
Temos muitas terapias para cortarmos com a hiperestimulação. São técnicas de repetição de sons, de gestos… Apesar disso podemos não conseguir cortar tantos estímulos. Nesse caso podemos ficar doentes física ou mentalmente.
Convém não esquecer que para vivermos precisamos de lutar pelos estímulos mas apenas por aquela dose óptima para sermos bem sucedidos.
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