As notícias e informações sobre pessoas com mais idade em que são chamadas de “velhos de 50 anos” ou “velhos de 60 anos” deixam-me um sorriso sarcástico mas também apreensivo. Mas mais grave do que isso é haver, por parte da sociedade, quando chegados a uma idade mais avançada, atitudes e comportamentos que as excluem expressamente ou discretamente do mercado de trabalho, da vida social, da vida sexual…
Podemos dizer que há um preconceito de idade constituído por muitas ideias erróneas, estereótipos positivos e negativos, sobre o envelhecimento.
As pessoas mais velhas são vistas, em geral, como “cansadas, têm pouca coordenação e são propensas a infecções e acidentes, que a maioria delas vive em instituições ou passa a maior parte do tempo na cama, que elas não conseguem se lembrar nem aprender, não têm interesse em relacionamentos sexuais, estão isoladas dos outros e dependem da televisão e do rádio, não usam seu tempo de maneira produtiva, e são rabugentas, autopiedosas, facilmente irritáveis e mal-humoradas”.
Por outro lado, os estereótipos positivos, que retratam esta idade como “idade de ouro e de paz na qual as pessoas colhem os frutos do trabalho de toda uma vida ou desfrutam de uma segunda infância despreocupada vivida ociosamente no campo de golfe ou na mesa de cartas não são mais precisos ou tampouco proveitosos.” (Diane E. Papalia e Sally W. Olds, Desenvolvimento humano)
Os esforços para combater o preconceito da idade estão a progredir devido aos casos de notoriedade de adultos idosos activos e saudáveis*.
A crítica social começa a ser mais frequente. Como no caso em que foi reduzida a indemnização a pagar a uma mulher vítima de um erro médico, por se entender que o sexo não é tão importante aos 50 anos como em idades mais jovens.
Por outro lado, devíamos saber mais do desenvolvimento humano e, neste caso, do desenvolvimento das pessoas idosas.
Na realidade a última etapa da vida é muito diversificada em termos individuais mas, mesmo assim, podemos distinguir três períodos (Diane E. Papalia e Sally W. Olds, idem) :
o dos velhos jovens - de 65 a 74 anos,
o dos velhos velhos - de de 75 a 84 anos,
O envelhecimento é um processo natural dos seres humanos, dinâmico, progressivo e irreversível e está ligado a factores fisiológicos, ficando o sistema nervoso central cada vez mais comprometido **. Com o envelhecimento, o ser humano apresenta também mudanças psicológicas: perda da auto-estima, alterações nos papéis sociais, perdas afectivas, principalmente de familiares, perda de autonomia, perda da independência e do poder de decisão; isolamento...
Erik Erikson (teoria do desenvolvimento psicossocial) define oito estádios de desenvolvimento, sendo o último, o 8º, a partir dos 60 anos, chamado de integridade/desespero. É a hora do balanço e da avaliação da vida. Dizemos que há integridade quando o balanço do seu percurso vital é positivo e desespero quando se considera a vida mal sucedida, pouco produtiva e realizadora. A virtude social desenvolvida é a sabedoria.
Não respeitarmos ou cuidarmos dos mais velhos é deitar fora esta sabedoria.
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* O prémio Drª Maria Raquel Ribeiro promovido pela Associação Portuguesa de Psicogerontologia visa destacar pessoas com mais de 80 anos pelos seus exemplos de vida ativa e participativa. O prémio divide-se em diferentes categorias, nomeadamente Intervenção Social, Arte e Espectáculo, Ciência e Investigação, Politica e Cidadania, Ética e Saúde, Família e Comunidade.
** As neurociências vêm dar um novo enfoque a este assunto. Ver o artigo de Martine Fournier, "Longue vie aux vieux cerveaux!" , Le cercle psy, nº 16, pag 80-83.
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