02/05/13

Carpe diem

Revista Epicur, nº 11

"As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo".
Epicuro

Com a crise, é frequente falar dos “portugueses” como “todos os portugueses”. É frequente ouvir dizer que os portugueses andam tristes e deprimidos ou que o 25 de Abril foi comemorado sem alegria e com uma profunda amargura. Estamos no mundo dos preconceitos, das impressões e do auto-convencimento acerca da personalidade dos portugueses. 
Por alguns estudos que se conhecem, não é fácil saber se os portugueses são mais tristes do que outros povos, embora a ideia convenha à justificação da tese de quem acha que quando estiveram no governo os portugueses eram muito mais felizes.
Ora acontece que a felicidade e o bem-estar também tem a ver com outros factores. Como dizíamos no último programa alguns ainda não entenderam que as diferenças actuais por comparação com as do passado são abissais. Não há comparação das condições actuais com as de há 50 anos. E já havia portugueses felizes nessa altura.
Por outro lado, sabemos que há muitos portugueses que estão a trabalhar bem e a fazer com que a sua vida e a dos seus concidadãos seja melhor. 
Sabemos que é nos países mais desenvolvidos que encontramos taxas elevadas de suicídio. Também sabemos que a felicidade (FIB) não tem uma relação directa com o PIB e que há países em que as pessoas não são mais felizes pelo facto de haver maior riqueza.
O crescimento da riqueza no mundo desenvolvido afectou muito pouco o bem-estar da população e os números crescentes relativos a doenças psicológicas, principalmente depressão em pessoas cada vez mais novas, chamam a atenção para as questões das emoções positivas mas também do empenhamento em actividades com significado na conquista do bem-estar, da realização e da felicidade. (Seligman).
Cada um de nós tem a sua forma de adaptação à vida, a sua filosofia de vida ou arte de viver. A arte de viver aprende-se todos os dias com os sucessos e com os fracassos, com a saúde e com a doença. No “clube dos poetas mortos”, a mensagem é “carpe diem”, vive o teu dia, torna a tua vida extraordinária.
Ser feliz não é aliás apenas não ter sofrimento mas ter objectivos, conseguir realizar um sonho, ter êxito social ou familiar, realizar um projecto e vivê-lo com paixão.
É interessante verificar que tanto no ocidente como no oriente apareceu este pensamento sobre a arte de viver a vida. No ocidente foram os filósofos gregos que desenvolveram este pensamento, no oriente houve um movimento semelhante com os sábios Confúcio, Lao-Tsé e Buda que fundam as três principais espiritualidades da Ásia : confucionismo, o taoísmo e o budismo. (J.-F. Dortier)
Achar o equilíbrio entre a contemplação e a actividade parece ser uma boa maneira de viver: o regresso à convivência com a natureza e evitar o stress que resulta do excesso de actividade ligada aos objectivos e metas de produção. 
Ao contrário do que se diz, há portugueses que procuram o bem-estar mesmo quando há dificuldades e isso depende mais de cada um e da gestão da sua vida do que da gestão que qualquer governo democrático faz do país.
Não podemos dizer que les portugais sont toujours gais mas também não andam todos deprimidos e amargurados…

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