17/05/13

Nem terceira idade nem cisma grisalho

Habitualmente, falamos de três idades: infância, juventude e velhice e designamos a velhice como 3ª idade.

Shakespeare, de forma cómica e irónica, fala das sete idades do homem: pré-infância, infância, juventude, mocidade, maturidade, velhice e senilidade.
...
Na sexta idade, se enfia em calças e em chinelas simples
Agora, usa óculos, bolsa de lado;
Num mundo muito vasto, as meias juvenis, bem conservadas,
Não são de mais valia para suas pernas agora finas.
Sua voz viril e portentosa
Volta aos sons agudos de criança, agora pia, vira assobio.
Última cena de um desfecho de uma estranha e episódica história:
Volta a ser criança. Vai-se a antiga memória saudável:
Sem dentes, sem visão, sem paladar, sem nada.
Erik Erikson divide a vida das pessoas em oito estádios de desenvolvimento, sendo o oitavo, a partir dos 65 anos, a idade adulta tardia.
Em muitas culturas o velho é considerado uma pessoa enfraquecida na sua saúde e com perda das suas capacidades de realizar um trabalho produtivo.
Mas esta é também a etapa da sabedoria: mais reflexão, mais tolerância e respeito pelos outros e pela sua opinião.

A evolução da sociedade e o aumento da longevidade e da qualidade de vida dos indivíduos, tornaram necessário introduzir, a partir dos 80 anos, um nono estádio (Joan Erikson).
As pessoas que se encontram neste estádio são os anciãos e revivem todos os conflitos anteriores:
É uma idade de enfraquecimento biológico e psicológico. Ficam enfraquecidas a confiança na sua autonomia, a autoestima, as ideias criativas, o sentido de oportunidade e o entusiasmo.
Pode ter um sentimento de incerteza em relação ao seu papel e  estatuto e pode ficar confuso sobre a sua própria identidade.
Pode ter um sentimento de isolamento e a ausência de lembranças, de recordações, de histórias.
Pode sentir-se inútil e ficar desencorajado, cansado e desesperado pela perda de capacidades.

Não é fácil alguém decidir que se reforma e se calhar nunca ninguém está preparado para se reformar. Mas, inexoravelmente, um dia chega o fim do tempo de trabalho.
Num mundo civilizado como o nosso, era espectável que a transição para a reforma fosse mais ou menos natural e pacífica.
Ao contrário, tem vindo a ser um dos assuntos mais discutidos e inquietantes dos últimos tempos.
A reforma não é apenas uma questão económica. A reforma é um processo complexo do ponto de vista do desenvolvimento humano que sofre transformações biológicas, comportamentais, sociais e ambientais profundas.
Creio que podíamos tornar esta transição menos dolorosa de forma a que as palavras exclusão, afastamento, solidão, isolamento, desprezo, indiferença, abandono, inutilidade, insegurança, não se associassem tão facilmente à pessoa reformada.

A reforma insere-se no contexto destas duas etapas da vida. Não são, certamente, os idosos que contribuem para o chamado cisma grisalho. Os reformados têm direito a serem tratados com dignidade e equidade, como os outros grupos etários. Para isso deverá haver apenas uma reforma para cada trabalhador. Deverá haver um único cálculo para a pensão de reforma. Deverá haver apenas uma idade para se adquirir o direito à reforma. Não haverá diferença de tratamento entre reformas públicas e privadas. Deverão terminar as pensões vitalícias...
Assim, talvez os idosos possam ter mais esperança nas novas gerações que chegam ao poder.

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