23/01/13

Gratidão


                      

A gratidão é uma apreciação da excelência de outra pessoa ao nível do carácter moral. Como emoção, é uma sensação de maravilha, agradecimento, apreciação da própria vida.  ( Seligman)
A investigação psicológica tem vindo a mostrar que os sentimentos de gratidão podem ser benéficos para o bem estar emocional do individuo. A gratidão melhora a saúde física e emocional, e pode fortalecer os relacionamentos e as comunidades. (Emmons)
A gratidão é uma das vinte e quatro forças do carácter e constituem as seis virtudes que existem em todas as religiões e culturas: sabedoria e conhecimento, coragem, amor e humanidade, justiça, temperança espiritualidade e transcendência (Seligman).
A gratidão integra a virtude da transcendência, ou seja, as forças emocionais que vão para além de si para o ligar a algo de maior e mais permanente: a outras pessoas, ao futuro, à evolução, ao divino ou ao universo.
Como sabemos, falar de virtudes nos tempos que correm não está na ordem do dia. Só que as investigações no campo da psicologia mostram a importância desta força na nossa vida.
As forças são traços de carácter, suficientemente organizadas para persistirem nas nossas atitudes e comportamentos mas sem serem necessariamente definitivas.
As forças apresentam outras características:
São valorizadas por si próprias.
São estados que desejamos e que não requerem justificação.
As minhas forças não diminuem a forças dos outros, pelo contrário todos ficam a ganhar.
A cultura apoia as forças porque delas falam as histórias, os rituais, os modelos, as parábolas…
Os modelos e os protótipos ilustram estas forças.
Pode haver jovens prodígios que as manifestam muito cedo.
E, finalmente, são ubíquas, isto é, são valorizadas praticamente em todas as culturas do mundo.
Nestas coisas da psicologia da gratidão, lembramo-nos de João dos Santos que escreveu n' O Jornal da Educação (nº 18, Dezembro de 1978), sobre o assunto.
João dos Santos conta a história de uma menina que passou por um litígio de divórcio em que um pai e um avô pretendiam tirar uma filha à mãe quando saíssem do seu gabinete.
Embora pudessem ter razões muito válidas para agiram daquela maneira, achou que não deviam entregar a criança ao pai contra a vontade da mãe. Mas que devia ser a justiça a tomar a decisão.
Entrou nesse processo o juiz Armando Leandro que muitos de nós conhecemos e a quem as crianças deste país muito devem pela defesa dos seus direitos, tal como aconteceu àquela menina, em que foram tidos em conta para além dos interesses legais dos pais, “o interesse vital da criança indefesa ameaçada na sua vida emocional” .
A história termina quando aquela menina quis falar a João dos Santos. Na sala de espera, a menina, não angustiada e aliviada, tirou do seu saco uma bela maça reineta e estendeu-a a João dos Santos que aceitou com entusiasmo aquela dádiva.
Foi desta forma que João dos Santos se achou honrado com aquela distinção e condecorado com a ordem da maça reineta.
A gratidão era uma das forças desta menina. Ela é fundamental no equilíbrio da nossa personalidade e também importante numa sociedade equilibrada.
Com frequência ouvimos falar da dispensa de funcionários, de que há funcionários a mais e que, pelos vistos, são descartáveis, de trabalhadores que vão para o desemprego ou para a reforma com “apagada e vil tristeza” .
Mesmo que tivesse que ser assim, a gratidão pelo trabalho prestado durante várias décadas, devia fazer parte da conduta das empresas e instituições.
A gratidão, se calhar, não se devia manifestar apenas no dez de Junho.
Mas não esperemos que a sociedade mude de um dia para o outro. Podemos esperar a gratidão na cumplicidade do sorriso de um aluno ou quando, na sua atitude genuína, nos diz “obrigado pela ajuda”. Nessa altura, podemos sentir-nos também condecorados como cavaleiros da ordem da maçã reineta. 

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