10/01/13

A paz depende de mim




Mudamos de ano desejando aos outros e, certamente, a nós próprios um bom ano, melhor do que o ano que passou.
Desejámos paz para todos, para a humanidade, mesmo para aqueles que não nos trataram muito bem.
Mas não é assim tão fácil desejarmos paz a nós próprios e, acima de tudo, procurar, activamente, essa paz para nós próprios.
É muito mais fácil achar bodes expiatórios para a nossa falta de paz. É muito fácil esperarmos que a paz aconteça um dia quando tivermos uma sociedade diferente.
Como só vai haver essa sociedade diferente se começar eu a mudá-la, a minha proposta de hoje é desejarmos paz a nós próprios.
Na consulta psicológica encontramos essa falta de paz em muitas das nossas crianças.
Sei que a falta de paz nasce muitas vezes nas famílias onde ninguém ouve ninguém, onde se culpabilizam os filhos pelos insucessos próprios e da própria família. São famílias também elas doentes. As famílias de que os adolescentes sentem raiva que se transforma em violência contra si próprios.
Raiva da mãe e do pai que não os protegeram, que deram preferência a outros irmãos ou outros familiares.
Raiva que se vira contra eles, contra si próprios e cujo sintoma aparece muitas vezes na agressão ao próprio corpo (cutting).
Perante esta atitude preocupante, é necessário dar alguma protecção a estes adolescentes. Esta protecção começa na atitude de os ouvir. Eles necessitam falar da angústia, da raiva que têm dentro de si e que se vira conta si próprios.
Depois é necessário torná-los conscientes dos seus próprios direitos e saberem que o que lhes acontece depende da justiça, dos Tribunais e das Comissões de Protecção e não de qualquer arbitrariedade.
Dar-lhes perspectivas de futuro, traçando os objectivos principais para a sua vida, o seu projecto de vida, sendo uma dessas tarefas principais estudar com sucesso.
Embora seja necessário procurar ajuda especializada, podemos sugerir algumas estratégias para lidar com estas situações:
A mais importante é ajudá-los a expressar a dor e as emoções, como raiva, tristeza e desvalorização...
Ajudá-los a reduzir a impulsividade, ser capaz de esperar pode ajudar a não passarem ao acto. Podemos conseguir esse objectivo através de actividades de ocupação e distracção que possam fazer impedir que tenham acções contra si próprios.
Podemos ajudá-los a encontrar comportamentos substitutivos:
Praticar uma actividade física ou desportiva e actividades relaxantes como ouvir música, fazer caminhadas, passeios…
Ter um animal de estimação e brincar com ele
Dedicar-se às artes visuais, à musica e escrever sobre a sua mágoa, raiva ou dor.
Desenvolver actividades manuais e tecnológicas, tradicionais ou não.
Em geral, as actividades desportivas e culturais são excelentes para proporcionar alívio, correr menos riscos e mesmo impedir a autoagressão.
Os pais e educadores têm particular responsabilidade em manter o diálogo com estes adolescentes em sofrimento, e em aliviar a culpabilização que, de alguma forma, eles sentem em relação aos problemas familiares.
A paz está dentro de cada um de nós, na nossa mente e nas relações que somos capazes de construir com os outros.

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