28/02/12

Multitarefa e distracção


A maior parte dos alunos manifesta problemas de atenção e quase a totalidade dos que apresentam dificuldades de aprendizagem têm associada falta de atenção.
A falta de atenção é o sintoma referido com mais frequência pelos professores.
Sabemos que a atenção depende de factores internos que têm a ver com a maturação do sistema nervoso central. As áreas do cérebro de que depende a atenção são as que têm maturação mais tardia através do processo de mielinização das fibras nervosas.
Por isso muitas vezes exigimos aos alunos aquilo que eles não podem fazer por falta de maturação biológica, isto é, que estejam atentos quando não têm desenvolvimento suficiente para manifestarem esse comportamento.
Outro conjunto de factores tem a ver com o ambiente da escola e da sala de aula onde existem inúmeros factores distractores, para além do próprio e dos pares.
Hoje é necessário contar com distractores que não existiam no passado como, designadamente, esse objecto fascinante que dá pelo nome de telemóvel.
O telemóvel está na origem de grande parte dos problemas que existem na sala de aula: instabilidade, falta de atenção, problemas de comportamento, roubos, mentira e bullying.
Mas a pressão do consumo de outros gadgets a que as crianças e jovens estão sujeitos transformou a família e escola em espaços de merchandising: lápis e afias com todos os complementos, os estojos incríveis, as referências publicitárias de toda a espécie, os teck deck que são dos mais recentes distractores...
Mas podemos perguntar se não temos capacidade para utrapassar a falta de atenção porque também realizamos muitas actividades simultaneamente: ver televisão, conversar, comer, navegar na Net, falar ao telefone, usar meios de comunicação social, ler e estudar...
As crianças e jovens utilizam, particularmente, a capacidade multitarefa. Um estudo com crianças dos 7 aos 15 anos de idade comprovou as suas capacidades para executar mais de uma actividade ao mesmo tempo.
As meninas são mais multitarefa do que os meninos: 79% contra 70%.
É verdade que os gadgets podem contribuir para o desenvolvimento de certas capacidades como a psicomotricidade fina, a coordenação psicomotora e a criatividade mas não podemos esquecer que são perturbadores da atenção na sala de aula.
O trabalho dos pais e encarregados de educação deve incidir também nestas matérias: saber o que os filhos levam para a escola, e moderar esse comportamento se for caso disso.
A capacidade multitarefa não significa capacidade de estar atento na sala de aula e além disso pode até contribuir para um conhecimento superficial dos conteúdos.
O controlo da atenção na sala de aula começa no controlo daquilo que os alunos transportam para a sala de aula: não só as emoções equilibradas mas os objectos que não favorecem a distracção.

Sem comentários:

Enviar um comentário