09/02/12

Onde começa a disciplina

De vez em quando reaparece no debate social (Expresso, Revista, 28/1/2012) o problema da indisciplina na escola. No entanto, a indisciplina diz respeito ao próprio funcionamento da escola.
O assunto é reaberto sempre que acontece mais um episódio lamentável de agressão a um professor, ou um episódio mais marcante de indisciplina entre os alunos.
A questão é que se parte do princípio de que o problema da indisciplina é dos alunos. E, portanto, é necessário disciplinar os alunos e acrescentar penalizações ao seu estatuto.
Claro que a escola serve também para disciplinar os alunos. Mas o que se passa é que o problema é outro, isto é, o que está a acontecer é que as agressões são feitas pelos pais dos alunos. E isto são casos de polícia e não problemas de disciplina.
Quando a indisciplina vem de dentro da escola, sabemos que ela faz parte da aprendizagem e é transversal a todas as épocas.
Quando um encarregado de educação agride um(a) professor(a) o problema não é de indisciplina na escola. Mas a associação é imediata.
Que fazer? Surgem algumas ideias peregrinas. Como por exemplo, aquela ideia de punir monetariamente os pais cujos filhos faltam à escola, como é o caso dos Açores. 
Pior ainda a ideia de a escola, no caso de infracção disciplinar grave, poder reter um aluno numa sala, transformando-a momentaneamente em prisão.
Parece-me que há muito a fazer, antes de seguirmos estas metodologias, de efeito, provavelmente, perverso.
A começar pela educação dos pais.
Do Reino Unido vêm indicações preocupantes do que está a acontecer:  
Então o que podemos esperar dos alunos ? Chamamos os pais para tomarem conta dos filhos quando não têm competências para isso ?
Por outro lado, a escola é responsabilizada por medidas e contextos educativos que não dependem dela.
Se o aluno é obrigado a estar na escola quando não quer lá estar, provavelmente aumentará a indisciplina.
Não parece que, após um numero de faltas injustificadas que dariam lugar a retenção, o Plano individual de trabalho (PIT) resulte em mudança de atitude.
Quem está no terreno sabe que isso não funciona.
Não haver várias percursos curriculares pode aumentar o desinteresse e a indisciplina. Os CEF, PCA e TEIP, são a prova de que há alunos que não conseguem sucesso doutra forma.
Se se adoptam respostas pouco estruturadas do ponto de vista organizacional e dos recursos humanos, como as AECs, a dimensão recreativa não é corrigida mas aumentada. 
O que está aqui em questão é uma mudança mais profunda da sociedade e da família e as consequentes respostas educativas. Não seria melhor que toda a sociedade mudasse alguma coisa para que a escola pudesse ser mais disciplinada ?
Claro que é melhor assobiar para o lado que é como quem diz a escola que resolva, se necessário que  castigue os alunos, porque os encarregados de educação nem para isso têm tempo.

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