Saber ganhar e saber perder são aspectos muito importantes da nossa vida. Algumas pessoas não sabem ganhar. É nas alturas de grandes vitórias militares, desportivas e políticas, por exemplo, que algumas dessas pessoas têm provado que não sabem ganhar. Assistimos a violências inomináveis quando vemos os vencedores entregarem-se às práticas mais bárbaras sobre os vencidos.
No desporto assistimos a cenas de grande violência entre os adeptos de um ou de outro lado, ou de adeptos entre si. Quando não é assim, viram-se contra as instituições, contra a propriedade pública ou privada, partindo tudo o que encontram no seu caminho. A força da multidão é incontrolável e pela indução do grupo ou da multidão praticam-se actos que pensamos impensáveis.
Mas saber perder não é menos importante. Principalmente quando nos tomamos por insubstituíveis e assumimos um papel que ninguém nos conferiu.
Este mundo está cheio de egos insufláveis. Depois de conquistarem o poder consideram-se divindades e tratam de assegurar que os filhos ou familiares continuem a missão que, supostamente, lhes foi confiada pelas (chamadas) massas. Estão tão certos desse poder, divino ou quase, que não admitem a liberdade de pensamento aos outros, nem alternativas e alternâncias.
A arrogância não deixa ver que ao fim de 15, 20 , 40 anos o seu tempo passou, que há partes de nós que não foram boas nem bem conduzidas, que aquilo que amamos, não nos ama mais e que algo chegou ao fim.
Assume-se então o papel de vítima: vejam só o que me fizeram, são uns irresponsáveis !
Da vitimização parte-se para a agressividade. Perdido por cem perdido por mil. Há então que estafar o que resta, colocar nos lugares os amigos de maior confiança, recorrer aos amigos que ainda pensam que existem, internos e externos, mesmo que os amigos externos sejam os amigos dos adversários internos.
Há que não deixar que as alternativas surjam. Dizimá-las logo à nascença. Vilipendiá-las com clichés que ainda pegam: liberalismo, neo-liberalismo, ambição do poder, irresponsabilidade, coligação negativa, não há nada melhor do que nós, não têm alternativas, não há alternativas.
Oh! É a sofreguidão do poder, diz o poder. E nós tão inocentes, tão desprendidos que fazemos tudo para os outros, despimos a camisa pelos nossos queridos concidadãos. Depois de nós o caos !
Cada possibilidade de alternativa tem ressonância negativa nos comentadores oficiosos, que a máquina do regime já assegurou nos respectivos lugares. É, por isso, que as agências noticiosas são controladas pelo poder.
A lavagem cerebral acontece todas as noites no prime time.
Os violinos do poder escondem a música da arrogância, do status quo, da continuidade, da falta de alternativas democráticas, da conformação, da ausência da mudança democrática.
É por isso que saber perder é tão difícil. Saber reconhecer que os outros também têm qualidades e que é preciso percebê-las em cada momento.
Mas o povo, as pessoas que todos os dias perdem alguma coisa, costumam entender quando é tempo de aceitar as dificuldades e mudar… porque a vida continua.
Como refere Freud, “reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura do que antes”. Substitua-se apenas guerra por crise.
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