23/04/11

A Primavera eleitoral em Portugal



"No seio do partido (Democrata –Cristão), é a eterna luta para conseguir este posto-chave (chefe do partido). Entre os «fanfanistas» e os «moroteístas», entre o «compromisso democrático», as «forças novas» e as «bases». Com efeito, as correntes dentro do partido são oficiais. Os «doroteístas» (dorotei) representavam 34 % dos votos, os «fanfanistas» (fanfanini), cerca de 20 %, os «moroteístas» (morotei), pouco mais de 8 %, o «compromisso democrático» (impegno democratico), cerca de 16 %, as «forças novas» (force nuove), 10% e as «bases» (base), 11%.
É isto a política italiana: quando os doroteístas ( do nome do Palácio de Santa Doroteia, em Roma, onde se constituiu esta corrente) se aliam ao «impegno democratico», «base» e «force nuove». Fanfani é minoritário e sai. Estranha aliança essa, dos «doroteístas», mais de direita, com as correntes progressistas como a «base» e «force nuove». Aliança de momento, de homens divergentes contra um homem que se quer «afundar». Jogos políticos que, hoje, a Itália recusa. O episódio, quase teatral, da «defenestração» de Fanfani é um exemplo: revela o que é, actualmente, a Democracia Cristã ou, antes, o que são os seus «mandarins», pois as bases do partido são os primeiros a entristecerem-se com este espectáculo.
Episódio tanto mais exemplar, quanto, a 14 de Abril de 1976, no XIII Congresso do partido, Fanfani surge como presidente da Democracia Cristã: «O nosso partido é cheio de quaresmas, mas também de ressurreições», diz ironicamente. E será o mesmo Fanfani que, ontem, afastado pelo seu anticomunismo, conduzirá a «dura» campanha eleitoral da Primavera de 1976, por ser o único capaz de recuperar os votos da extrema-direita para contrabalançar a escalada do PCI.
Mas Fanfani não conseguiu retirar os sufrágios a Berlinguer. Não solucionou a situação; antes pelo contrário. A questão comunista ocupa, mais que nunca, o centro do problema italiano e a Democracia Cristã continua dividida, uma vez finda a batalha eleitoral. Ela sabe que os seus eleitores não votaram apaixonadamente e que a sua renovação se anuncia sob o signo das intrigas bizantinas, ao gosto de fim do Império." (P. Meney (1977), A Itália de Berlinguer, Lisboa: Ed. António Ramos, Pag.66 e 67)
Será necessário acrescentar alguma coisa para se compreender o que se passa  nesta Primavera eleitoral em Portugal ?  

Sem comentários:

Enviar um comentário