03/02/11

O lugar da desordem: movimentos sociais e revoltas dos jovens

Ciclicamente, surgem fenómenos como os que estão a acontecer em alguns países do norte de África e do médio oriente.
Sem a pretensão de fazer qualquer análise política ou sociológica, interrogo-me sobre os fenómenos que vão acontecendo neste nosso mundo, com um sentimento de déjà vu.
Alguns, de forma imprevisível, afloram nas mais diversas sociedades, com novas formas de enquadramento, devido ao fenómeno de globalização e das tecnologias de informação.
Muitas destas revoltas são revoltas de jovens. Como no passado. E surgem não só em ditaduras mas em sociedades democráticas.
Se é expectável que em ditaduras, mais tarde ou mais cedo, isso venha a acontecer, porque a falta de liberdade acaba por despertar com maior acuidade a necessidade de revolta, mais difícil será entender o que acontece em sociedades com governos democraticamente eleitos.
Os movimentos sociais vêm pôr em questão as teorias da mudança social existentes. Acima de tudo, fica sempre posta em causa a capacidade dessas teorias para prever este tipo de acontecimentos.
Como diz Joaquim de Aguiar "a realidade expulsa a ilusão" (entrevista a Maria João Avilez). E, para R. Boudon, "importa não interpretar os modelos (sobre as mudanças sociais) de maneira realista, não lhes atribuir um poder de previsão que não têm: o real ultrapassa sempre os limites do racional, principalmente se se tratar de fenómenos particularmente complexos como são os fenómenos sociais."
Alguns movimentos sociais nem sempre são progressistas. E alguns dos modelos fazem-se acompanhar de grande desilusão.
Olivier Rolin (entrevista ao DN de 23/4/2006) mostra a desilusão ao cair na realidade. Compara Maio 68 com o movimento anti-CPE (contrato primeiro emprego), "o  movimento do maio 68 era revolucionário, utópico e radical… enquanto que o movimento anti-CPE, é conservador, quer segurança laboral. Não é um movimento que deseja uma sociedade nova. É um movimento que quer agarrar-se a formas antigas da sociedade." E acrescenta que "os jovens de hoje não têm ideologia e é melhor assim. As ideologias são uma forma de deformação e mentira."
O problema é que também não há ideais.
Mas o que é que verdadeiramente significa movimento social revolucionário ou conservador? Que um foi positivo e o outro não ?
Afinal o que ficou, qual foi a herança, se Maio 68 foi revolucionário e deixou esta herança:
"Acho que não teremos deixado nada de positivo, não deixámos uma conquista, destruímos o ensino. Eu penso que um dos grandes males actuais da França é que o ensino não funciona, no seu conjunto, não forma cidadãos."
Nestes movimentos sociais, nas revoltas dos jovens, encontramos as mais diversas motivações, dificilmente conciliáveis, como por exemplo:
- Contestação da autoridade: Em todas as épocas houve jovens ligados às contestações, revoltas e críticas à autoridade, independentemente dos regimes políticos e das religiões.
- Os problemas das universidades: A recusa das condições de existência que lhes são dadas. Vontade de reformas universitárias.
- A vida quotidiana: às vezes são os acontecimentos mais vulgares que subitamente mobilizam os jovens.
- Os contágios: A rapidez da informação leva a crises em série, o que prova, de resto, uma certa identidade de situações. Isto tinha grande importância em 68. O que dizer do momento actual com as redes sociais ?
Há prós e contras relativamente às revoltas dos jovens ou simplesmente às revoltas. Nem sempre há progresso nem sempre retrocesso.
Mas, entre outros, os problemas da vida dos jovens e dos jovens universitários com poucas saídas profissionais e precariedade é um fenómeno que diz respeito a toda a sociedade.
Não somos capazes de prever quando e como podem cair no lugar da desordem.

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